A Sejusp afirma que a Polícia Militar atuou “em estrito cumprimento da lei” para conter tentativa de esbulho em uma propriedade rural entre Dourados e Caarapó. Enquanto isso, o Cimi acusa as forças de segurança de realizar despejo sem ordem judicial. Eles também alegam o uso de bombas e balas de borracha. No centro da disputa, aparecem áreas reivindicadas pelos Guarani e Kaiowá. Estas ocupações começaram desde domingo (21) e há relatos divergentes sobre violência e destruição.
De acordo com nota oficial, equipes da Força Tática e do Getam atenderam a ocorrência nesta terça (23), próximo à MS-156. Após “inúmeras tentativas de negociação” para desocupação pacífica, parte do grupo, segundo a PM, resistiu. Eles teriam ameaçado agentes com machados e facões. Por isso, a corporação diz ter usado “força moderada e impacto controlado”. A PM também informa que não registrou prisões, feridos ou danos materiais relevantes. Além disso, encaminhou os materiais apreendidos à Polícia Civil.
Pela versão do Cimi, houve ataque contra a comunidade Guarani e Kaiowá em Porto Cambira. Essa área é vinculada à TI Dourados-Amambaipeguá III, cujo processo de identificação segue parado há 12 anos. Vídeos feitos pelos indígenas mostram correria e fumaça. Inicialmente, a entidade atribuiu a ação ao DOF; no entanto, o próprio departamento desmentiu a informação. Segundo lideranças, a ocupação decorre do cansaço com a demora na demarcação. Isto se soma ao uso da área por “invasores”.
Conflitos e reivindicações indígenas
A Sejusp reitera que a PM atendeu uma ocorrência de tentativa de esbulho. Eles sustentam que operaram com foco na preservação da vida e da ordem. No comunicado, a corporação ressalta compromisso “técnico, humano e responsável”. Já lideranças indígenas relatam que houve disparos e pressão pela desocupação. Embora, até agora, não exista confirmação de feridos ou detidos.
Na Fazenda Ipuitã, dentro da TI Guyraroká, o conflito ganhou novos capítulos. No domingo (21), indígenas ocuparam a área; na segunda (22), a Tropa de Choque retirou o grupo. Nesta terça (23), após intervenção da Força Nacional, a comunidade deixou o local. Moradores alegam que ocuparam para impedir pulverização de agrotóxicos. Também pressionam pela demarcação. Por sua vez, o proprietário registrou boletim por destruição de patrimônio. Ele ainda relatou sequestro de funcionário e incêndios na mata.
Disputa de terra e acusações cruzadas
Em boletim, o fazendeiro relata que cerca de 60 indígenas, alguns encapuzados e armados com facões e espingardas, intimidaram seguranças e funcionários. Eles também efetuaram disparos e atearam fogo. Em contraponto, o Cimi afirma que dois indígenas foram sequestrados. Eles foram libertados após mobilização da comunidade. Além disso, acusam supostos pistoleiros de incendiar a mata para incriminar os indígenas. A comunidade exige a interrupção das pulverizações. Eles cobram do proprietário uma resposta em 48 horas.
A TI Dourados-Amambaipeguá III fica às margens do Rio Dourados, e a disputa avança sobre um histórico de processos inconclusos. Diante da escalada, o Ministério dos Povos Indígenas solicitou ao Ministério da Justiça reforço da Força Nacional na região. A reportagem buscou novos esclarecimentos com a Sejusp e o MJSP, mas ainda aguarda retorno.