
O crescimento acelerado de Mato Grosso do Sul colocou o Estado no centro do debate econômico nacional. Com alta de 13,4% do PIB em 2023, uma das maiores do país, o desafio agora vai além dos números: transformar expansão econômica em desenvolvimento sustentável, com empresas mais preparadas, líderes qualificados e inserção competitiva no mercado global.

Essa avaliação foi apresentada pelo presidente do LIDE Mato Grosso do Sul, Aurélio Rocha, em entrevista à Massa FM Campo Grande, na qual analisou o momento vivido pelo Estado, o papel do empresariado e as estratégias para aproveitar o ciclo de investimentos que se intensificou nos últimos anos.
Estado em expansão e mudança do perfil produtivo
Segundo Aurélio, Mato Grosso do Sul vive um momento singular, impulsionado por investimentos privados que ultrapassam R$ 130 bilhões, com destaque para a indústria da celulose, a diversificação agrícola e a expansão da bioenergia.
“Mato Grosso do Sul não é um tigre asiático, é uma onça brasileira. É hoje um dos estados que mais cresce no país e o que mais recebe investimento privado”, afirmou.
Além da celulose, o presidente do LIDE citou a chegada de novas culturas, como laranja e amendoim, e a consolidação de um modelo produtivo mais integrado, com forte presença da indústria de transformação.
“O Estado deixou de ser apenas celeiro para se tornar supermercado. Aqui, o produto sai pronto para a gôndola”, disse.
Liderança empresarial e preparação para oportunidades
Para Aurélio Rocha, o crescimento econômico cria oportunidades, mas também exige preparo. Ele avalia que o empresariado precisa ampliar sua visão estratégica e se adaptar a um ambiente cada vez mais competitivo e internacionalizado.
“O cavalo está passando arreado. O papel do LIDE é ajudar o empresário a montar esse cavalo.”
O LIDE, segundo ele, atua como uma plataforma de conexão empresarial, promoção do Estado e atração de investimentos, por meio de fóruns, missões internacionais, encontros técnicos e debates estratégicos.
Agro, inovação e eventos estratégicos
Entre as iniciativas recentes, Aurélio destacou o Fórum Agro RCN realizado durante a Expogrande, que reuniu lideranças políticas, empresariais e representantes de diferentes cadeias produtivas em um momento de incertezas no cenário internacional.
O objetivo, segundo ele, foi apresentar Mato Grosso do Sul como um Estado multiproteína e mostrar a força das novas cadeias produtivas, da pesquisa ao produto final.
“O agronegócio é tudo aquilo que nasce na prancheta do cientista e vai até a gôndola do supermercado.”
Sustentabilidade como condição para competir
Outro eixo central da entrevista foi a sustentabilidade. Aurélio avaliou que práticas ambientais deixaram de ser discurso e passaram a ser exigência do mercado global.
“Um produto feito em Mato Grosso do Sul precisa ter qualidade, sustentabilidade e rastreabilidade. É isso que o consumidor está olhando.”
Ele citou o Fórum LIDE Cop 30, realizado em Bonito, como um marco na discussão empresarial sobre meio ambiente, reunindo mais de 150 empresários de diferentes regiões do Brasil e do exterior.
“A discussão política ficou em Belém. A discussão empresarial da sustentabilidade ficou em Bonito.”
Aurélio também destacou a meta do Estado de se tornar carbono neutro até 2030, além dos investimentos em etanol de milho, biometano e outras fontes de bioenergia.
Inserção internacional e novos mercados
Como diretor de Relações Internacionais do sistema FIEMS, Aurélio participou de missões empresariais à Índia, Japão e Singapura, escolhidas com base em critérios econômicos e estratégicos. “Não são missões de turismo. São missões com lógica comercial.”
Ele explicou que a Índia foi escolhida pelo tamanho do mercado consumidor; o Japão, pela Expo Mundial e por investimentos já existentes no Estado; e Singapura, por ser porta de entrada para a região da ASEAN, com mais de 700 milhões de habitantes.
“Não podemos depender apenas de mercados tradicionais. Diversificar destinos é uma questão de sobrevivência.”
Governança, sucessão e nova geração
Aurélio também abordou os desafios internos das empresas, especialmente a sucessão familiar e a adoção de práticas modernas de governança corporativa.
“Existe resistência, principalmente geracional. Mas o Estado está entrando agora na segunda e terceira geração empresarial.”
Ele defendeu a separação clara entre papel de acionista e executivo, além da preparação dos jovens para assumir funções estratégicas, seja dentro ou fora dos negócios da família.
2026: eleições, polarização e diálogo
Ao analisar o cenário político, Aurélio avaliou que 2026 tende a ser um ano de forte polarização, o que exige equilíbrio e diálogo. “Eu sou um centro radical. Acho que os dois lados têm o que acrescentar.”
Segundo ele, o LIDE busca se consolidar como um espaço neutro, onde diferentes visões possam debater o futuro do Estado e do país. “O LIDE é o campo neutro do debate.”
Otimismo com realismo
Ao final da entrevista, Aurélio deixou uma mensagem de otimismo cauteloso, defendendo o que chamou de “realismo esperançoso”.
“O pessimista é um chato, o otimista é um tolo. O bom mesmo é ser um realista esperançoso.”
Para ele, apesar das incertezas, Mato Grosso do Sul reúne condições únicas para seguir crescendo, desde que consiga alinhar desenvolvimento econômico, sustentabilidade, governança e diálogo. “Eu escolhi morar aqui porque essa é uma terra de oportunidades.”
Confira a entrevista na íntegra: