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Campo Grande, 23 de abril

Reportagem relembra cenário da febre aftosa em MS

União de produtores e governo gerou avanços na vacinação e conquista de status de área livre da doença

Por Thais Cintra/ Ingrid Rocha
20/05/2022 • 18h08
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OUÇA A REPORTAGEM COMPLETA NO LINK ABAIXO: 

Mato Grosso do Sul conquistou recentemente o status “livre de febre aftosa sem vacinação” a partir de 2023.  Responsáveis pelo progresso, produtores, governo e entidades rurais se uniram e adotaram estratégias para combater a doença e retomar a economia na produção bovina. Segundo Osmar Bastos, médico veterinário e ex-docente pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), hoje a situação está controlada, porém, na década de 70, período crítico da doença, a realidade era outra.

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“Eu lembro que os produtores rurais não deixavam o pessoal da defesa sanitária entrar pra vacinar, era espingarda na porta e ninguém entrava. Tinha uma cultura de que a vacina dava febre no gado, não podia usar o leite e tinha que jogar fora no dia seguinte. O que eles faziam? Compravam a vacina e jogavam fora. Cansamos de ver sacos de estopas com vacinas dentro, jogados em beira de estrada”, relata. 

Foto:  Kelly Ventorim/ Semagro-MS Campanha de vacinação ganhou força após surto da doença em 2005 e 2006

O professor foi um dos profissionais que esteve na linha de frente no combate à doença nas últimas décadas. Ele lembra que o cenário de morte e tragédia era devastador, algo que jamais havia presenciado, mesmo com toda a experiência na veterinária. Dados do boletim focos MS, revelam que só entre os anos de 2005 e 2006,  Mato Grosso do Sul contabilizou 77.628 animais mortos pela aftosa. 

 

“Naquela época, a movimentação de técnicos era grande e ainda tinham que gastar com gasolina e comprar lenha pra queimar os animais doentes que eram sacrificados. Tinham que chamar o pessoal no Exército que costumava manusear bem armas de fogo como a espingarda. Uma meia dúzia de soldados dava um tiro certeiro bem no meio da cabeça do animal e depois jogavam em uma vala para então ser queimado”, relata Bastos. 

Vala de animais sacrificados por estarem contaminados pela doença - Foto: Domínio Público 

Na década de 60, ainda menino, Osmar viu o pai, médico veterinário, já atuando em campanhas no interior de São Paulo. Ele afirma que a pecuária só começou a se profissionalizar quando novas tecnologias e a vacina chegaram, o que de fato impulsionou as campanhas e ações de imunização do rebanho. 

"Se o produtor não vacinasse, prendiam o gado e era um sufoco danando. A campanha não surtia efeito necessário. Estamos falando da década de 60 e 70. Foram mais de 50 anos de campanhas, até que se conseguiu chegar nesse status de hoje, onde não precisamos mais vacinar a partir de 2023. Só ficou sob controle quando o produtor começou a entender a doença e o mercado externo passou a pressionar o país”, pontua.

Estado possui atualmente 99,62% de cobertura vacinal - Foto: Reprodução Famasul 

Lembrando que Mato Grosso do Sul permaneceu com o status “livre de febre aftosa com vacinação” até 2005/2006, período em que foram registrados os últimos casos. Conforme a Agência Estadual de Defesa Sanitária e Animal (Iagro), em 2008, foi criada a Zona de Alta Vigilância (ZAV), e o estado passa a utilizar novamente o status. Somente em 2011, essa certificação foi reconhecida internacionalmente.

Entidades como os Sindicato Rurais, Famasul e Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familar (Semagro), foram essenciais para a ampliação e conscientização das campanhas nos municípios que desenvolvem a pecuária. Segundo o presidente da Iagro, Daniel Ingold, além de incentivar os produtores a notificarem a agência, um dos objetivos de gestão é investir em tecnologia no monitoramento e fiscalização nas regiões de fronteira com o Paraguai e Bolívia. 

“Estamos trabalhando com afinco e temos que atuar principalmente com envolvimento do produtor. É um tripé e somos preparados. É essencial que os produtores não tenham medo da Iagro e façam a notificação junto às unidades sanitárias. Possuímos um sistema de inteligência nas fazendas que monitora o que tem de gado e o que não tem. Criamos o projeto ‘Lobo Guará’, onde a gente tem uma van com internet no meio das fazendas", destaca.  

O Confinamento bovino em Mato Grosso do Sul  Confinamento bovino em propriedade rural no interior do estado - Foto: Reprodução/Semagro-MS 

Para a Mariana Urt, diretora técnica do Sistema Famasul, a elevação de status sanitário do estado se deve muito à parceria entre setor público-privado e especialmente ao produtor rural, que garantiu nos últimos 10 anos uma cobertura vacinal de quase 100% do rebanho. “Agora essa nova certificação colocará Mato Grosso do Sul em outro patamar no mercado internacional de proteína animal, oportunizando o acesso a novos mercados como Canadá, Japão e Coreia do Sul”, analisa.

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