De atacante a goleiro. O camisa um da Seleção Brasileira Sub-20 faz parte de mais uma de tantas histórias “pitorescas” do futebol brasileiro. Agenor Detofol, 19 anos, é hoje o terceiro goleiro da equipe profissional do Internacional-RS.
Porém, teve que suar para chegar onde chegou. E quer muito mais. O “Colorado” é natural de Erexim no Rio Grande do Sul, mas foi criado em Viadutos. Filho de pais separados, o madeireiro também de nome Agenor e de Lourdes, que é dona de casa, o menino do Inter preferiu morar com a mãe. Ele tem sete irmãos por parte de pai e ainda mais um irmão e uma irmã por parte de mãe. Foi uma criança agitada, gostava de quebrar tudo e como ele mesmo contou, não tinha muito o que fazer nessa época, mas sempre jogava bola.
Como a maioria dos “boleiros” do país, enfrentou dificuldades para se tornar jogador profissional. “Toda criança sonha, mas a grande maioria não consegue nada”, analisou Agenor em uma das suas primeiras frases durante a entrevista.
Mas o que diferencia então a história dele da dos outros? Duas coisas. “Não queria ser jogador de futebol. Imaginava as dificuldades, não achava que era isso que eu queria, pensava em ficar perto dos amigos e da família. O que eu queria mesmo era ser engenheiro mecânico”, revelou. E não é só isso. Em Viadutos, quando era adolescente, ocorriam muitas peneiras. “Estava acostumado, sempre ia mal e desanimava”. Depois de muitas reprovações veio a surpresa. “Passei em uma como atacante”, riu.
A peneira era para jogar no centro treinamento Nova Geração, na cidade de Giruá, distante 474 Km de Porto Alegre. “No interior tem muito torneio de pênalti, quando passei no Nova Geração, era terceira opção no ataque e isso me incomodava. O time tinha goleiros, mas um sempre faltava. Em uma dessas brincadeiras, peguei três de cinco pênaltis e o professor perguntou se eu não queria ser goleiro e eu disse que sim”. Só que o apoio da família não veio na sequência. “Meu pai foi contra no início, mas hoje me apóia muito”.
Depois de cinco meses, um treinador, de nome Magnos, que já jogou no Grêmio, conseguiu um treino para Agenor no Juventude, de Caxias do Sul. “Em uma semana me aprovaram”, contou o goleiro da Seleção Sub-20. Mesmo com o “sucesso” repentino, as coisas não andavam fáceis para ele. “Um dia meus pais levaram metade das minhas roupas embora, estava decido a ir. Depois joguei uma partida fui bem e acabei decidindo ficar”. A dificuldade em Caxias, porém, só aumentava. “Não tinha contrato ainda. O Juventude quis me fazer assinar um de cinco anos ganhando 500 reais por mês, aí não dava né?”, questionou. A equipe gaúcha não queria liberar o atleta, aja vista que as propostas começaram a chegar. “Tinha do Atlético-PR, Vasco e Inter, mas eu não sabia dessa do Colorado. Meu pai sim sabia e ele torce para o Internacional. Eu queria ir para o Vasco, por causa de visibilidade, da Seleção Brasileira, mas fiquei sabendo que lá os salários estavam atrasados e desisti da idéia”, disse. Quando a história de Agenor parecia que iria ficar “normal” como a dos outros, ele contava mais detalhes inusitados.
“Fui meio que acertado para o Inter, mas não tinha assinado nada ainda. Não queria assinar de cara. Pensei nos goleiros do clube: o Clêmer era ídolo, Marcelo Grohe era da Seleção, Muriel, Seleção, Luis Carlos, Seleção também, aí que vinha eu. Como eu vou jogar? E o pior era que os garotos mais novos, depois de mim, eram todos das Seleções de base também”. O jeito foi pedir um tempo. “Uma semana em casa para pensar. Eu pedi isso. Aceitei depois, pelo meu pai”.
A história no Colorado Gaúcho ainda é curta, mas rica. “Comecei como segundo goleiro dos juniores. Em cinco meses comecei a jogar como titular. Depois fui para o Inter B”. Mesmo novo e desconhecido, já era observado. “Tinha contrato até 2007, mas recebi uma proposta da Turquia. Até queria ir, mas não acertei. Renovei por três anos com Inter”. Logo depois da renovação, Agenor passou a ser o terceiro goleiro do time profissional.
Sonhos
“A curto prazo, Seleção Sub-20. Ir para o Mundial (que acontece em Setembro/09 no Egito), e jogar. Depois, jogar no Inter profissional, construir um nome no futebol brasileiro. Aí sim ir para fora do país, jogar em um grande time, disputar títulos e, é claro, ganhar dinheiro porque a carreira do atleta de futebol profissional é curta”, avaliou.
Conselhos
Para quem quer ser jogador, ele deixou claro que o essencial é abdicar de muitas coisas. “Se quiser mesmo ser jogador, têm que correr atrás. Deixar muitas coisas de lado como família e amigos. É complicado. O menino precisa ver se é isso mesmo que ele quer. O futebol não é como a maioria acha. É difícil de chegar ao time profissional e se manter. Se quiser mesmo, têm que suar muito”, finalizou.
Ficha
Nome: Agenor Detofol
Idade: 19 anos
Nascimento: 11/12/89, em Erexim (RS)
Criado em: Viadutos (RS)
Posição: Goleiro
Clubes: Juventude 2004 (com 13 anos) a 2006, Internacional à partir de Setembro (então com15 anos)
Títulos: Campeão Serrano (estadual sem Inter e Grêmio), Campeão Torneio com equipes de fora do país e Campeão Gaúcho pelo Juventude.
Bicampeão Gaúcho Junior 2008/09, Bicampeão Gaúcho Profissional, Campeão Sul Americana 2008 e fez parte do elenco Campeão Copa Suruga no Japão em 2009 pelo Internacional