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Estudo aponta vírus comum entre o genoma humano e o de outros mamíferos

Descoberta permitirá entender a evolução no passado de doenças mentais

A revista científica Nature publicou nesta quarta-feira (6) que o material genético herdado de um novo tipo de vírus foi descoberto no genoma (conjunto de genes de uma espécie) do homem e no de outros mamíferos, o que pode permitir uma maior compreensão da evolução no passado e até doenças mentais atuais.

Até hoje, apenas um grupo de vírus – o dos retrovírus – era conhecido por deixar rastros no genoma dos mamíferos. Segundo o cientista Keizo Tomonaga, da Universidade de Osaka (Japão), que junto com seus colegas pesquisou o assunto, aproximadamente 8% do genoma humano é constituído por elementos de antigos retrovírus.

A equipe de Tomonaga descobriu que o vírus da doença de Borna, que pode infectar as células do cérebro do homem e de outros mamíferos, integrava uma parte de seu material genético há pelo menos 40 milhões de anos. O vírus Borna causa depressão grave, apatia e sonolência.

Os resultados da pesquisa mostram que elementos genéticos semelhantes aos destes vírus foram encontrados no genoma do homem e no de outros primatas (chimpanzé, gorila, orangotango, macaco), assim como em marsupiais, roedores e elefantes.

Dois dos genes encontrados no genoma do homem podem ser funcionais, mas ainda não se sabe qual seria sua função.

Cedric Feschotte, da Universidade do Texas, diz que estudos anteriores já haviam demonstrado que elementos genéticos herdados de antigos retrovírus poderiam desempenhar um papel protetor contra certas infecções em carneiros e ratos.

Ele explicou que nos primatas, dois genes derivados de dois antigos retrovírus produzem agora proteínas essenciais para a formação da placenta.

Os retrovírus – entre os quais está o vírus da Aids – precisam integrar seu material genético ao DNA da célula que infectam para modificar o funcionamento celular em benefício próprio.

Este, no entanto, não é o caso do vírus da doença de Borna, motivo pelo qual encontrar traços de seus genes no genoma de mamíferos é bastante surpreendente.

Feschotte contou que a inserção de genes do vírus da doença de Borna no genoma de mamíferos fornece uma nova fonte de mutação genética que pode explicar evoluções do passado, além da variedade de sintomas de doenças mentais atuais.

Embora reconheça que tudo isso está sujeito a controvérsias, o cientista lembra que uma associação entre infecção com o vírus da doença de Borna e alguns transtornos psiquiátricos já havia sido citada pelos especialistas.