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COMPORTAMENTO ANIMAL

Rasmussen questiona se onça capturada é a mesma que matou Jorginho no Pantanal

Em entrevista, biólogo levanta dúvidas sobre a identidade da onça capturada e alerta para riscos crescentes na convivência entre humanos e felinos

Onça capturada no Pantanal e Richard Rasmussen durante entrevista
Onça capturada no Pantanal e Richard Rasmussen durante entrevista (no detalhe) - Fotos: Arquivo e Reprodução/Podcast

Em uma entrevista ao podcast Inteligência Ltda, transmitida nessa sexta-feira (9), os biólogos Richard Rasmussen e Henrique Abrahão Charles discutiram o ataque fatal da onça-pintada ao caseiro Jorge Ávalo, de 60 anos, conhecido como Jorginho, no Pantanal sul-mato-grossense.

Até o momento, a morte de Jorginho ocorrida há menos de um mês, no dia 21 de abril, na região de Touro Morto, em Miranda (MS), onde ele trabalhava há quase duas décadas em um pesqueiro, ainda é cercada de dúvidas.

A Polícia Militar Ambiental (PMA-MS) confirmou a morte do caseiro ao encontrar pegadas do felino junto a pedaços do corpo dele. No dia seguinte, familiares localizaram o local para onde o corpo do homem foi arrastado pelo felino. A suspeita é que mais de uma onça tenha se alimentado dos restos mortais de Jorginho.

Durante a entrevista, Rasmussen elogiou o trabalho de captura do animal mas expressou ceticismo sobre a identidade da onça capturada:

Imagem/Frame capturado do podcast Inteligência Ltda

“Não dá pra afirmar que essa é a onça que matou o Jorginho, disse.

Ele explicou que, sem evidências conclusivas, como análise de DNA ou rastreamento por colar GPS, é impossível determinar com certeza se o animal capturado foi o responsável pelo ataque.

Ceva e comportamento atípico

O biólogo Henrique destacou que ataques de onças a humanos são extremamente raros e geralmente ocorrem sob circunstâncias excepcionais. Ele sugeriu que a desnutrição do animal pode ter sido um fator contribuinte, levando-o a buscar presas mais fáceis, como humanos.

“Onças são predadores oportunistas. Se estão debilitadas, podem atacar presas incomuns“, destacou o biólogo Henrique.

Durante o podcast, os biólogos lamentaram a ação de ‘ceva’ (prática de alimentar os animais silvestres com o objetivo de atraí-los) dos felinos, que vem sendo denunciada há tempos para as autoridades ambientais. Rasmussen afirmou que, durante uma de suas viagens à região onde Jorginho foi atacado, gravou cenas de onças com comportamento típico de ceva e alertou sobre o problema.

Rasmussen acrescentou que a crescente presença humana no habitat natural das onças aumenta o risco de conflitos. Ele enfatizou a importância de políticas públicas que equilibrem a conservação da fauna com a segurança das comunidades locais.

Captura e exames

Onça-pintada deitada em recinto com grades no CRAS após resgate no Pantanal
Foto: Saul Schramm

A onça-pintada que rondava a casa de Jorginho após o ataque foi capturada dois dias depois por uma equipe do Reprocon  (Reprodução para Conservação) – formado por pesquisadores voluntários e especializado no monitoramento de grandes felinos -, com apoio dos policiais ambientais.

O animal , um macho adulto de 9 anos de idade, foi encontrado desnutrido – com 94 kg (ideal seria 120 kg) – e levado ao Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras) em Campo Grande. No Cras, o felino passou por exames, tem o comportamento monitorado e recebe cuidados veterinários.

Nas fezes da onça, que supostamente atacou o caseiro, foram encontrados ossos e cabelo aparentemente humanos. O material foi encaminhado para análise, assim como restos mortais e parte do corpo do caseiro, que foram recolhidos no Pantanal. A identidade de Jorge foi confirmada a partir de exames necroscópicos.

Agora, os peritos esperam cruzar a mostra recolhida nas fezes da onça com os restos mortais encontrados no Pantanal e com o sangue coagulado, também coletado. Os resultados devem confirmar se o animal devorou o caseiro, mas não devem esclarecer se foi a mesma onça que atacou Jorginho.

Destino da onça

O destino da onça capturada ainda está sendo avaliado pelas autoridades ambientais. Há discussões sobre a possibilidade de relocá-la para uma área mais isolada ou mantê-la sob cuidados humanos, dependendo dos resultados dos exames e do comportamento do animal.

O caso de Jorginho serve como um alerta para a necessidade de medidas que promovam a coexistência segura entre humanos e a vida selvagem no Pantanal.

“Precisamos entender que estamos invadindo o espaço desses animais. A conservação depende do respeito mútuo“, concluiu Rasmussen.

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