Giovanni Beccari Gemente e Nilton Cezar Carraro
Quem nunca ouviu a seguinte frase ou algo similar: Gostaríamos de ter nascido na época de nossos avós! Isso ocorre por razões simples. Nesse passado não tão distante, havia liberdade para ir e vir e até mesmo brincar nas ruas sem a preocupação com a criminalidade, trânsito ou outros males. Não existiam os milhões de anúncios publicitários que recentemente atormentam a cabeça das pessoas, numa incessante busca de consumidores. Na verdade, é um uso abusivo, do qual as empresas têm tirado proveito para criar um desejo em seus clientes, procurando vender cada vez mais, sem a real necessidade de consumo. Este é o famoso apelo que os publicitários e marqueteiros chamam de “desejo de consumo”. Em outras palavras, as empresas cada vez mais “gulosas” querem consumidores mais “gulosos” ainda.
Toda a panaceia criada pós Revolução Industrial não se limita à exploração dos recursos naturais, fator que tem levado à degradação acelerada do meio ambiente e, consequentemente, da qualidade de vida das pessoas. A desagregação social e o aumento do abismo entre os mais ricos e a grande maioria pobre manifesta-se a todo momento. Se não bastasse isso, o pior dos fatos é que as pessoas estão consumindo por puro “impulso”, sem levar em consideração a real necessidade do homem em sua condição de “ser”.
O objetivo deste novo milênio parece caminhar para o universo do “ter”, onde o verbo mais importante é “ostentar", ou “aparecer” com objetivo único de mostrar-se uma pessoa bem-sucedida, como o atestam as milhares de fotos ostentativas postadas nas redes sociais diariamente. É assim que muitos pensam! É assim que o DNA humano tem-se constituído em tempos atuais: “Tenho; logo, sou.” A “gula” pelo ter cresce a todo instante. Pensando de forma mais crítica, as perguntas que ficam são: Qual é a evolução ocorrida desde o tempo dos homens das cavernas? Tivemos alguma evolução ou a dominação agora ocorre de outra maneira?
Pois bem, àquela época, os grupos já registravam em pinturas rupestres o “ter”, e hoje fazemos questão de valorizar através das mídias – ah, essas mídias – o que temos em excesso.
Outras questões nos assolam: Aonde isso tudo nos levará? Chegaremos até alguma espécie de fundo do poço ou fim dos tempos? Seria o nosso novo Leviatã?
O fato é que esse consumo “guloso” tem despertado o aumento produtivo nas indústrias, que estão extraindo maior quantidade de insumos naturais para satisfazer tais necessidades – diga-se de passagem, “gulosas” –, que, a rigor, não têm razão de existir. Tudo isso faz parte de um círculo vicioso com o falso apelo de gerar emprego e renda e, por extensão, subliminarmente, impostos. Será que o consumo por si só é sustentável? Claro que não! Observem as condições ambientais do planeta e sociais das populações.
Esta é uma questão a que as empresas devem estar atentas, pois, em épocas de crise, tal qual esta que o Brasil e outros países enfrentam (e enfrentarão nos próximos meses e anos), o próprio ambiente social deverá despertar os cidadãos para iniciativas mais realistas, que contemplem a satisfação do homem em sua condição de “ser” que habita um planeta com capacidade finita. Nesse sentido, há de se fazer uma reflexão intraempreendedora nas empresas a ponto produzir produtos e serviços que contemplem a sustentabilidade.
Há, entretanto, questões que continuam batendo em nosso cérebro: De fato, existirá espaço para empresas que não pensam nas questões de sustentabilidade? De fato, irá o homem conscientizar-se quanto ao consumo necessário, comprando de empresas que pensam nas questões sociais? Ou acabaremos com o pouco que resta do planeta?
O pecado da gula está aí cada vez mais agudo e nenhum Fórum Econômico Mundial se atreveu até hoje a levantar uma bandeira contra o mundo capitalista. Por que será?
Urgentemente necessitamos rever os conceitos de sobrevivência e convivência social e econômica! Talvez valeria refletirmos sobre a frase de Carlos Drummond de Andrade, na obra O avesso das coisas: “A gula pode ser pseudônimo de instinto de destruição.”