Apesar de envolver mais de R$ 10 bilhões em investimentos e prometer melhorias em 870 quilômetros de rodovias, a nova concessão da chamada Rota da Celulose, vencida pelo consórcio K&G nesta quinta-feira (7), deixa de fora a duplicação do trecho da BR-262 entre Três Lagoas e Ribas do Rio Pardo.
Durante os 30 anos de contrato, a região contará apenas com serviços de manutenção, assistência, instalação de radares e torres de internet, além de praças de pedágios, enquanto a duplicação está prevista apenas entre Ribas e Campo Grande, nos primeiros cinco anos de concessão. O certame foi realizado na sede da Bolsa de Valores (B3), em São Paulo, e o consórcio formado pelas empresas K-Infra Concessões e Galápagos Participações saiu vitorioso ao apresentar um desconto de 9% na tarifa de pedágio — o maior entre os concorrentes, cujas propostas variaram de 4% a 8%.
A concessão abrange trechos estratégicos das rodovias federais BR-262 e BR-267, além das estaduais MS-040, MS-338 e MS-395 — um corredor logístico conhecido como Rota da Celulose. A parceria entre os governos federal e estadual prevê a operação do trecho por 30 anos. Ao todo, serão R$ 10,1 bilhões em investimentos, sendo R$ 6,9 bilhões em despesas de capital e R$ 3,2 bilhões em custos operacionais. Estão previstas duplicação, construção de acostamentos, terceiras faixas, vias marginais e contornos urbanos.
Entre os municípios diretamente beneficiados pela concessão estão Campo Grande, Ribas do Rio Pardo e Três Lagoas — este último com a garantia de que o contorno viário em construção seja incorporado à concessão após a conclusão da obra, prevista para o quarto ano do contrato.
De acordo com o Ministério dos Transportes, a expectativa é que a concessão gere cerca de 87.657 empregos, entre diretos, indiretos e induzidos. A nova gestão das estradas deve ainda contribuir para a redução de custos logísticos de empresas da região, especialmente da indústria de celulose, setor que movimenta a economia sul-mato-grossense com mais de 1,5 milhão de hectares cultivados e uma produção anual de 7,5 milhões de toneladas.
A Rota da Celulose também será integrada à Rota Bioceânica, corredor internacional que ligará os oceanos Atlântico e Pacífico. A conexão ampliará as oportunidades de importação e exportação para os mercados da Ásia e da América do Norte, reforçando a posição estratégica do Brasil no comércio global.
O leilão atual ocorre após um primeiro certame fracassado em dezembro do ano passado, quando nenhuma proposta foi apresentada. Na ocasião, o modelo original previa R$ 6 bilhões em obras e R$ 3 bilhões em custos operacionais. Para viabilizar o projeto, o governo revisou o contrato, ampliando o prazo para conclusão das obras essenciais — agora previstas entre o sexto e o oitavo ano — e redistribuiu investimentos para torná-los mais atrativos ao mercado.
“O momento era outro. Havia concorrência com outros leilões e o apetite do mercado estava mais contido. Modernizamos o contrato e diluímos os investimentos iniciais, o que viabilizou o projeto”, explicou o governador Eduardo Riedel.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, também participou do evento e destacou a importância dos investimentos privados em infraestrutura. Segundo ela, os leilões realizados pelo governo federal nos últimos dois anos mobilizaram cerca de R$ 140 bilhões — quase três vezes o orçamento anual do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
“Estamos diante de um Brasil que pode dar certo. Um país que precisa reorganizar seus gastos, sem aumentar impostos, para viabilizar investimento público, mas também para valorizar e atrair o capital privado”, declarou a ministra. Ela revelou ainda que está a caminho da China para negociar parcerias internacionais voltadas ao setor ferroviário. “Temos uma dívida histórica com o país: rasgar esse Brasil de ferrovias”, completou.