Na manhã de ontem, o presidente da Eldorado Brasil, José Carlos Grubisich, se reuniu com a prefeita Márcia Moura e representantes do Imasul para falar da expansão da fábrica e agendar a data da audiência pública que discutirá com a comunidade o novo projeto bilionário da empresa. Logo após a reunião, Grubisich, concedeu uma entrevista ao Jornal do Povo.
Jornal do Povo– Qual foi o objetivo dessa reunião?
José Carlos Grubisich -Objetivo foi de compartilhar com a prefeita e com a equipe da administração municipal o projeto de duplicação da capacidade da Eldorado, que prevê investimento da ordem de R$ 7,5 bilhões. Nós devemos começar o investimento no final de 2014, início de 2015, com a previsão de entrar em operação com essa nova fábrica no início de 2017. É um projeto extremamente avançado e, será de novo a segunda maior linha de produção de celulose do mundo. Estamos prevendo uma linha de produção de dois milhões de toneladas por ano, com capacidade de aumentar para dois milhões e trezentas mil toneladas ano. Um investimento importante, que também tem um eixo de estruturação do ponto de vista econômico-social para toda a região de Três Lagoas e Selvíria, onde vamos ter também a plantação de florestas em um projeto extremamente sustentável e integrado, que vai trazer muitos benefícios para toda a região.
JP– A Eldorado já solicitou ao Imasul a Licença de Instalação e já tem até data marcada para a audiência pública?
Grubisich – Já existe uma data pré-definida para a realização da audiência pública, que é dia 13 de novembro.
Será a oportunidade da Eldorado, e de todas as equipes, e empresas de engenharia, que participaram até esse momento da concepção desse projeto, de fazer uma prestação de contas para a comunidade da região, apresentando o projeto e todos os estudos de impacto ambiental, da qualidade do ar e da água. A população vai perceber que é um projeto que não tem nenhum impacto de natureza socioambiental, é um projeto avançado do ponto de vista da tecnologia, da sua gestão ambiental e que vai trazer um número de contribuições muito importante na área de crescimento da renda e dos impostos para os municípios e aumento no volume de exportações. Acho que é um momento importante para que possamos mostrar para a comunidade essa abordagem moderna, com alta tecnologia, e com uma preocupação muito grande com toda questão de sustentabilidade, do desenvolvimento sustentável da comunidade.
JP-O relatório de impacto ambiental, prevê que existe estudo em relação a instalação do empreendimento, bem como de sua expansão. Quais são as preocupações para a implantação do novo projeto?
Grubisich – Exatamente, são sete relatórios com mais de duas mil e duzentas páginas. É um estudo muito profundo, que entra no detalhe da questão da qualidade do ar de toda a região, assim como da qualidade da água subterrânea e superficial, impacto na fauna, na flora e todas as conclusões são extremamente positivas e todas elas recomendam a aprovação. É importante que a comunidade participe de mais esse passo na direção do desenvolvimento e crescimento.
JP– O porquê da necessidade de expandir a fábrica agora, esse é o momento?
Grubisich -Algumas questões são importantes nessa decisão, primeiro, que nós implantamos a primeira fase da Eldorado com muito sucesso, o projeto foi executado no tempo, abaixo do custo que havíamos previsto inicialmente.
O projeto entrou em operação de uma maneira extremamente positiva e com qualidade do produto, hoje já estamos operando a fábrica dentro da capacidade nominal do projeto. São notícias muito favoráveis e, o que nós percebemos é que o mercado mundial de celulose continua crescendo. O mundo vai precisar de um milhão e meio de novas capacidades de produção e o Brasil é o país mais competitivo para a produção de celulose de eucalipto. Nós achamos que tem espaço para que a Eldorado faça um novo projeto para estar operando a partir de 2017, para que a gente possa a partir de Três Lagoas, que é a capital mundial da celulose, ocupar mais e mais esse espaço no mercado internacional. O mercado chinês continua crescendo, assim como todos os mercados emergentes, através do uso do papel para fins sanitários, como papel higiênico e toalhas de papel. Então, tem um crescimento garantido no mundo e acho que o Brasil, Três Lagoas têm que aproveitar desse crescimento. Esse projeto vai ser implementado aqui no município de Três Lagoas.
JP– Qual tem sido o destino da produção da Eldorado Brasil?
Grubisich– Nós estamos praticamente produzindo no limite da nossa capacidade produtiva, então, nós estamos fazendo e vendendo cerca de 130 mil toneladas de celulose por mês. Hoje, basicamente 40% da produção vai para a Ásia, onde os dois principais mercados são China e Coréia do Sul. Acho que não é novidade, porque são os dois grandes mercados. Vendemos cerca de 40% na Europa, onde o grande mercado é Itália, que tem uma posição muito forte na questão de papel para fins higiênicos e sanitários, mas vendemos também na Alemanha e Itália , bem como na França e Espanha e para todos os países da Escandinávia, Suécia e Finlândia. Vendemos 20% da produção nas Américas, incluindo as vendas no mercado doméstico brasileiro. Portanto, uma distribuição muito adequada das nossas vendas. Estamos com preços muito bem remuneradores para a celulose e com essa recente desvalorização do Real faz com que a indústria de celulose brasileira seja a mais competitiva do mundo, por isso temos apetite e vontade de crescimento.
JP-Qual o tamanho da área a ser expandida com a duplicação da Eldorado?
Grubisich – Nós fizemos um programa de plantio grande em 2012, e estamos repetindo em 2013. Nós plantamos 35 mil hectares no ano passado e vamos plantar 50 mil hectares esse ano. Vamos terminar o ano de 2013, com cerca de 160 mil hectares de florestas plantadas próprias da Eldorado, em térreas arrendadas de fazendeiros da região. Então, o nosso plano é duplicar essa área plantada de florestas até 2018 na região de Três Lagoas, Selvíria, Água Clara e Inocência.
Toda região no entorno de Três Lagoas vai ter um benefício importante nesse programa de expansão das florestas da Eldorado, que são florestas renováveis e sustentáveis, com alto nível de convivência com as matas nativas, com as áreas de preservação permanente, mata ciliares, porque a Eldorado tem esse compromisso de ser uma empresa competitiva, mas, sobretudo, uma empresa sustentável e que tem uma conivência pacífica e harmoniosa com as comunidades.
JP-Hoje está fácil ou difícil encontrar áreas para serem arrendadas para o plantio do eucalipto?
Grubisich -A história recente do eucalipto na região mostrou que a plantação de florestas, é uma boa atividade econômica. Todas as pessoas que investiram nessa área estão satisfeitas, já que traz uma rentabilidade melhorada em relação a outras opções que tinham na região, traz a possibilidade de ter caixa entrando dinheiro praticamente todo mês e, dá flexibilidade para o fazendeiro ter uma área plantada de eucalipto, de pecuária, ou qualquer outra destinação que ele queira dar. Quer dizer, dá a ele uma capacidade de decidir e garantir uma renda para reinvestimento ou para melhoria na qualidade de vida da família. O que temos observado é que todos os parceiros tem um nível de satisfação muito grande. Praticamente já temos em permanência cerca de 40 mil hectares de áreas arrendadas à frente do nosso programa de plantio, o que nos dá uma flexibilidade muito grande de planejamento e de qualidade de implantação das novas florestas, e mostra que tem uma oferta, não vou dizer que exagerada, mas que a terra que a Eldorado precisa, está conseguindo, no equilíbrio ganha-ganha, entre Eldorado e os proprietários de terra da região.
JP-Na semana passada, o governador André Puccinelli anunciou que mais uma empresa de celulose vai se instalar na região do Bolsão, o que acha disso?
Grubisich – Analisa de maneira positiva. Na medida em que novas empresas anunciam novos projetos, significa que acreditam que tem crescimento no mercado internacional. E, que o Brasil é o país mais competitivo do mundo para esse tipo de indústria, esse anúncio só reforça a convicção que a Eldorado tem de continuar crescendo e investindo, porque tem mercado para isso. Evidente que qualquer novo entrante vai ter que trabalhar em um ambiente concorrencial, que não é de vida fácil. A gente tem que levantar cedo e dormir tarde todo dia para continuar sendo competitivo nesse negócio, mas acho que o mercado está aí, disponível para todos. Um mercado que cresce no mundo e que o Brasil tem condições de ter novos projetos. Agora, vai ter que trabalhar, porque a Eldorado está trabalhando bastante.
JP-Existe a possibilidade da Eldorado Brasil abrir uma nova unidade em outro lugar?
Grubisich –Hoje, nós estamos concentrados, primeiro em aumentar a capacidade de produção dessa primeira fábrica, de um milhão e meio de toneladas por ano, para um milhão e setecentos mil toneladas por ano, e nós já vamos fazer isso a partir de 2014, e depois todo o nosso tempo e nossa energia estará dedicado a viabilizar esse investimento de R$ 7,5 bilhão, um investimento grande em qualquer lugar do mundo e que a gente precisa colocar todo tempo e energia para fazer com que esse negócio se viabilize em condições rentáveis e correta de competitividade.
JP– Como a Eldorado pretende fazer para conseguir esses R$ 7,5 bilhões para a expansão da fábrica?
Grubisich -O nosso plano para financiamento desse projeto, primeiro é fazer um aumento de capital, da ordem de R$ 2,5 bilhões com os atuais acionistas da Eldorado, que são o grupo J&F, os controladores da JBS, a Funcef, que é o Fundo de Pensão dos Funcionários da Caixa Econômica Federal e com a Petros, que é o Fundo de Pensão dos Funcionários da Petrobras. Estamos trabalhando também com outras fundações que poderiam participar desse aumento de capital. E, no que diz respeito às linhas de financiamento que a Eldorado vai tomar, nós protocolamos um pedido junto ao BNDES, que são financiamentos ao longo prazo para esse tipo de projeto. Conseguimos o enquadramento, a aprovação de uma linha de R$ 1,5 bilhão do Fundo do Desenvolvimento do Centro Oeste (FDCO) para liberar R$ 700 milhões nesse ano e R$ 700 milhões em 2014. Estamos trabalhando também com as agências de créditos de exportação da Finlândia, Suécia e Áustria para o financiamento da ordem de R$ 1 milhão e, com isso, a gente fecha o pacote de capital e de linhas de financiamento, que torna o projeto viável para começarmos a construção no final de 2014, ou começo de 2015.
JP– Para quem não acreditava, primeiro no projeto de construção da fábrica, a unidade está aí em pleno funcionamento e, agora a Eldorado já trabalha para ampliar a unidade. Não tem mais o que duvidar, não é?
Grubisich – Exatamente, a Eldorado mostrou essa capacidade de realização de execução, se houve dúvidas, conseguiu demostrar que nós viemos para transformar a indústria de celulose no Brasil e no mundo. Queremos ser um dos lideres do setor de celulose de fibra curta a partir de eucalipto no país e no mundo, e que nós estamos colocando o pé no acelerador, temos bala na agulha para fazer mais essa etapa do nosso projeto de crescimento.
JP– A Eldorado já investiu mais de R$ 20 milhões em ações sociais na região devido a instalação da fábrica. Nessa segunda etapa, estão previstos novos investimentos?
Grubisich – Nós temos um compromisso grande com as comunidades onde atuamos. Como você disse, na primeira etapa nós fizemos investimentos sociais na ordem de R$ 25 milhões, focados na área de saúde e educação, que foram as áreas onde as comunidades nos apontaram como prioritárias. Apesar do número ainda não estar definido, acredito que deveremos investir um montante parecido, na ordem de R$ 30 milhões que serão direcionados na área que a comunidade entende como prioritária.