Indústrias em Mato Grosso do Sul estão reaproveitando materiais descartados da produção para gerar energia elétrica, que abastece a própria unidade. O excedente ainda é comercializado para o Sistema Nacional.
Em Três Lagoas, uma unidade produz 1,3 milhão de toneladas de celulose a partir de 168 mil hectares de eucalipto. Diariamente, 48 mil árvores são trituradas, e a indústria consome 90 Mw por hora. A parte da matéria prima que não serve à produção final não é descartada. "Comparando com o que existe de disponibilidade de energia no mercado, podemos assumir que a diferença no custo é de 100%. A economia é muito grande e dá viabilidade ao negócio", diz o gerente de produção Fernando Rasch.
A energia é produzida por meio da biomassa e pode ter duas origens: a primeira é com as cascas do eucalipto, e a segunda é com o licor negro, um líquido residual do cozimento da madeira e que é enviado a um digestor. O processo é automatizado e pode ser acompanhado por um sistema de câmeras. "A gente retira a água, concentra, só fica uma quantidade de matéria orgânica, essa matéria é queimada na caldeira de recuperação, onde é gerado vapor superaquecido que é enviado pro coletor, neste coletor a gente encaminha o vapor para o tubo gerador onde vai transformar energia mecânica em energia elétrica", explica Simone Queiroz, especialista em processos industriais.
A energia excedente é enviada à concessionária de eletricidade, podendo ser consumida pelos moradores da cidade. O lucro é investido novamente na produção.
Usinas de açúcar e álcool
O bagaço da cana de açúcar também vira energia, e em Mato Grosso do Sul já representa a segunda maior fonte energética. Em Nova Alvorada do Sul, a 120 km de Campo Grande. A usina que processa a cana já tem contrato para fornecer energia elétrica para o sistema nacional pelos próximos 15 anos.
De acordo com o gerente industrial Eliandro Romani, a energia representa a terceira fonte de renda da unidade, depois do açúcar e do etanol. "A unidade foi criada com alta concepção tecnológica, visando o aproveitamento de energia e vapor no processo e visando essa exportação de energia elétrica pra contemplar maior lucro e resultado", explica.
O bagaço corresponde a 25% de toda a cana processada. Por dia, são geradas 7 mil toneladas de bagaço de cana. A capacidade de geração de energia da usina é de 30 Mw. Parte da energia mantém a fábrica em funcionamento. O excedente é vendido e vai para a rede de distribuição.
Atualmente, 9 das 22 usinas do setor sucroalcooleiro do estado ofertam energia elétrica para o sistema nacional. Até novembro, deste ano quase 10 milhões de toneladas de bagaço de cana serão transformadas em eletricidade.
Na caldeira, é gerado o vapor que vai até as turbinas, para mover as rodas metálicas que produzem a energia mecânica. No gerador, ela é transformada em energia elétrica.
De acordo com a associação dos produtores de bioenergia (Biosul), Mato Grosso do Sul leva vantagem, em relação a outros estados do Centro-Sul e do Sudeste do país, porque gera 95 kilowatts/hora a cada tonelada de cana moída. A média em outros estados é de menos da metade: 41 kilowatts/hora com a mesma quantidade de cana.
Leilão de energia
No Brasil, segundo a Biosul, das 432 processadoras de cana, 129 exportam energia. As usinas que investiram na geração de bioeletricidade participam de leilões do governo federal para vender a energia. No último leilão de energia nova, o megawatt/hora foi vendido em média, por R$ 102,18. "A expansão do sistema elétrico é feita através da realização de leilões em um processo competitivo. Significa que se deseja ter as fontes de geração que apresentam os menores custos", explica Altino Ventura, secretário de planejamento e desenvolvimento estratégico do Ministério de Minas e Energia.
Os investidores cobram do governo alternativas que tornem os preços mais atrativos para a produção de energia limpa. "A adoção de leilões regionais seria uma solução para isso, ou então leilões por fonte, um leilão específico pra cada tipo de fonte. Dessa forma, você privilegia as externalidades de cada uma das fontes de energia", explica Roberto Hollanda, presidente da Biosul.