No mês passado, o contrato assinado entre Prefeitura e a Sanesul completou um ano. Ele garantiu que a estatal continue explorando os serviços de água e esgoto por mais 30 anos em Três Lagoas. Para fazer uma avaliação dos serviços prestados pela empresa nesse período, o Jornal do Povo conversou com o presidente da Sanesul, José Carlos Barbosa.
Jornal do Povo – A Sanesul está cumprindo com o que foi estabelecido no contrato?
José Carlos Barbosa– O governo e a Sanesul estão cumprindo com todos os compromissos. Durante a assinatura da renovação, previu-se que a Sanesul investiria, em 30 anos, R$ 142 milhões em Três Lagoas. As obras de ampliação das estações de tratamento e da perfuração e ativação do poço que irá substituir o do Palmito, que estão em execução, somam R$ 24 milhões. Somado aos R$ 40 milhões, preparados para a licitação, faz com que a cidade receba no governo André Puccinelli mais de R$ 82 milhões em investimentos nesses primeiros anos. Isso significa que a Sanesul e o governo estadual vão superar em muito a meta de investimentos.
JP– Por que o poço do Palmito ainda não foi desativado, já que a previsão era de que isso acontecesse até o mês passado?
Barbosa – Por uma série de complexidades. Precisávamos saber se o novo poço teria vazão para substituir o do Palmito. Seu poço é jorrante e não teríamos condições de desativá-lo sem a intervenção da Petrobras. Só posso pedir que a empresa venha e feche a água do Palmito quando o sistema estiver testado e esse poço ativado em carga, fazendo provisoriamente o desvio da água para um córrego ou para uma determinada região. Antes de desativá-lo, preciso ver se as residências que são abastecidas pelo Palmito estão recebendo água normalmente. Fizemos uma previsão com a Petrobras para setembro de 2012 para que ela possa vir e lacrar em definitivo o poço do Palmito. Pode ser que até lá a água vá sendo misturada.
JP – A população tem reclamado de que o serviço de tapa-buraco que a empresa faz para recuperar o asfalto, aberto a fim de que sejam feitas as ligações de água e esgoto, não é de qualidade?
Barbosa – Isso se deve à dificuldade [em encontrar] mão de obra e empreiteiras, além de dependermos de São Pedro, porque quando chove não tem jeito de fazer os serviços nesse prazo. Três Lagoas é uma cidade diferenciada. Todas as empreiteiras reclamam da falta de mão de obra. Somos cobrados pela Prefeitura, pela vice-governadora, mas por outro lado temos que ter compreensão com os empreiteiros por falta de mão de obra.
JP – Por que as ruas ficam com depressão onde é feito o tapa-buraco?
Barbosa – Já fizemos mais de 200 quilômetros de cortes em Três Lagoas. O problema é que as pessoas tendem a encontrar um trecho com problema e tratam isso de modo generalizado. Não é o que percebo andando pela cidade. Podemos ter problemas pontuais e que precisam ser resolvidos. Se ficou algum problema, a empreiteira tem que voltar e refazer o serviço. Só pagamos o empreiteiro após o serviço ser entregue com qualidade. A população pode ligar na Sanesul e reclamar.
"No final de 30 anos, teremos investimentos de R$ 300, R$ 400, ou R$ 600 milhões"
JP – O vereador Jorge Martinho tem afirmado que no contrato teria que haver um plano de saneamento para a cidade. Como o senhor analisa essa questão?Barbosa – Isso já está previsto no contrato. É o plano de investimentos que estabelecemos com o município. Para se ter uma ideia, até 2014 vamos ter 97% de coleta de esgoto e água para abastecer todos os lares de Três Lagoas.
JP – Mas, ele alega que daqui a 30 anos a Sanesul vai ter uma arrecadação bem maior do que os R$ 142 milhões que a Sanesul anunciou que investiria no município no prazo, já que vai aumentar o número de ligações de água e esgoto. O que o senhor acha disso?
Barbosa – Por isso que se ele olhasse a lei que a Câmara aprovou e a lei federal nº 11.445, iria saber que, no máximo, em quatro anos, está prevista uma revisão do plano. Então, havendo alteração, alteram-se também os investimentos. Isso significa que, no final de 30 anos, teremos investimentos de R$ 300, R$ 400, ou R$ 600 milhões. O que determinará o ritmo dos investimentos é o crescimento da cidade. Quando assumimos a Sanesul, Três Lagoas tinha 17% de coleta e tratamento de esgoto. Nos dois mandatos do atual governador, vamos deixar a cidade com 97% de rede de esgoto. O sistema de investimentos é contínuo. O plano de investimentos contempla a realidade presente e o crescimento futuro, conforme os índices do IBGE.
JP– O contrato poderá ser rompido antes de 30 anos?
Barbosa – A diferença desse contrato em relação ao antigo é que, antes, você assinava o cheque em branco. Hoje, é um casamento que tem cláusulas estabelecidas e caso não seja cumprido, o contrato pode ser rompido. O discurso é político, eleitoreiro e vazio. No governo passado, investiu-se nos oito anos R$ 4 milhões. Agora, é diferente, se não cumprirmos o contrato, ele pode ser rompido. A pessoa que exerce o cargo legislativo precisa conhecer a lei antes de falar as coisas.
JP-Em relação a vazamento de esgotos, algumas pessoas questionam que a tubulação é fina e não comporta a capacidade?
Barbosa– Ótima oportunidade de esclarecimento. O esgoto precisa ser bem utilizado. O grande problema que enfrentamos em Três Lagoas e em outras cidades é que as pessoas não utilizam corretamente o esgoto. A população precisa entender que rede de esgoto não é drenagem, e foi feito para esgoto doméstico. Não é para jogar cachorro e gato morto, assim como descartar fraldas, roupas, entre outros objetos. Aqui, quando chove, as pessoas abrem à caixinha do esgoto e deixam a água escoar para dentro dele. As elevatórias chegam a ficar no nível dos motores. Isso pode até queimar os motores, o que pode até prejudicar o tratamento do esgoto e causar um problema sério para a Sanesul. O uso consciente e adequado da rede faz com que se tenha eficiência do serviço oferecido.
JP-Com a ampliação das estações de tratamento, os esgotos serão lançados para o rio Paraná, isso não irá comprometer a qualidade da água?
Barbosa-O rio Paraná não irá sofrer nenhum impacto. A eficiência da estação de tratamento é de 90%. Portanto, não haverá nenhum impacto ao meio ambiente.