Três Lagoas é hoje um dos maiores símbolos de transformação econômica e social de Mato Grosso do Sul. Em menos de duas décadas, o município viveu uma verdadeira revolução: deixou de ser um polo regional com economia baseada no comércio e na agropecuária para se tornar um dos principais motores industriais do Brasil — e um dos maiores exportadores do Centro-Oeste.
Esse salto se deu, principalmente, com a chegada das indústrias de celulose e papel, a partir de 2007. O novo perfil econômico da cidade não apenas redesenhou o mercado de trabalho, como impulsionou os indicadores populacionais, de arrecadação e de desenvolvimento urbano. Hoje, Três Lagoas é reconhecida mundialmente como a “Capital da Celulose”, com influência direta no desempenho de Mato Grosso do Sul no comércio exterior.
Liderança nas exportações
O reflexo mais visível dessa transformação está no comércio internacional. Três Lagoas lidera, com folga, o ranking das cidades sul-mato-grossenses que mais exportam, superando centros tradicionais como Campo Grande, Dourados e Corumbá. Antes da industrialização, o município aparecia discretamente entre os exportadores. Em 2006, já ocupava a terceira posição no ranking estadual, mas a grande virada aconteceu a partir de 2009, com a instalação das fábricas de celulose. Desde então, Três Lagoas ocupa o primeiro lugar nas exportações de MS.
Em 2024, o município respondeu por 26,2% de todas as exportações do estado, somando US$ 2,6 bilhões, um crescimento de 45,3% em relação ao ano anterior. A celulose é o carro-chefe, mas os produtos químicos e os derivados da silvicultura também têm peso na balança.
Explosão de arrecadação
O avanço da indústria teve reflexos diretos na arrecadação municipal e estadual. Os repasses de ISS (Imposto Sobre Serviços) e ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) cresceram de forma exponencial.
Em 2004, o orçamento da Prefeitura de Três Lagoas era de R$ 55 milhões. Em 2024, chegou a R$ 1,2 bilhão. Esse aumento de mais de 2.000% em duas décadas transformou a capacidade de investimento do município, permitindo avanços em áreas como infraestrutura, educação e saúde.
Salto populacional
A atração de novas empresas e oportunidades gerou um fenômeno migratório expressivo. Em 2007, Três Lagoas tinha cerca de 85 mil habitantes. De lá para cá, a população cresceu 29,8%, alcançando 141.435 habitantes em 2024, segundo estimativas do IBGE.
Esse crescimento é cinco vezes maior que a média nacional no mesmo período (6,5%) e bem acima da média estadual (12,6%). Em 2010, a cidade ultrapassou a marca dos 100 mil moradores e, desde então, atrai milhares de pessoas todos os anos em busca de emprego e qualidade de vida.
Empregos e qualificação profissional
Entre janeiro de 2020 e abril de 2025, Três Lagoas criou cerca de 8.500 novos empregos formais, segundo dados do Novo Caged. Apesar do impacto da pandemia de Covid-19, que gerou quedas em 2020 e 2021, a cidade se recuperou com força a partir de 2022, impulsionada principalmente pela indústria de transformação — com destaque para os setores de celulose, papel e químicos.
A construção civil também teve papel relevante, especialmente em períodos de obras industriais e novos empreendimentos imobiliários. O comércio e o setor de serviços acompanharam o crescimento, absorvendo a mão de obra local e regional.
Hoje, o município mantém um estoque de 44.716 empregos com carteira assinada, consolidando sua posição como um dos maiores polos empregadores de MS.
Urbanização e impactos sociais
O avanço econômico provocou mudanças significativas no espaço urbano. Novos bairros surgiram, condomínios foram erguidos e a infraestrutura viária foi ampliada. A cidade também ganhou investimentos em saúde, educação, mobilidade e equipamentos públicos.
Além disso, aas próprias indústrias instaladas na cidade atuam com projetos sociais e ambientais. A Suzano, por exemplo, mantém programas de educação ambiental e apoio a produtores rurais. Já a Eldorado desenvolve ações de capacitação e inserção produtiva de comunidades vulneráveis.
Desafios de um crescimento acelerado
O crescimento traz benefícios, mas também impõe desafios. A pressão sobre os serviços públicos — como saúde, saneamento e transporte — exige planejamento constante. A falta de mão de obra qualificada é um gargalo ainda a ser superado, uma dificuldade que se repete em várias regiões do estado. Para o presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems), Sérgio Longen, a escassez de trabalhadores tem dificultado a expansão do setor industrial no estado.
Para suprir essa demanda, a Fiems, inclusive, firmou um acordo de cooperação com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e a Câmara de Comércio Paraguai-Brasil, visando atrair e regularizar trabalhadores paraguaios para o estado. O governo estadual também tem buscado alternativas para suprir essa necessidade e, neste ano, lançou uma nova plataforma digital voltada à qualificação profissional. O sistema, gratuito e totalmente online, permite que trabalhadores, empresas e instituições de ensino se conectem de forma direta a oportunidades de capacitação e de trabalho no estado.
MEIO AMBIENTE
A qquestão ambiental também está no radar: o uso intensivo de recursos naturais exige responsabilidade e a adoção de práticas sustentáveis. Nesse sentido, empresas e o poder público vêm atuando para alinhar o desenvolvimento aos princípios do ESG (ambiental, social e governança).
Futuro promissor
Com uma base industrial sólida e infraestrutura em expansão, Três Lagoas deve seguir crescendo nos próximos anos. A expectativa é que o município se consolide como um hub industrial sustentável, atraindo novos investimentos e elevando ainda mais sua relevância no cenário nacional e internacional.
A história recente de Três Lagoas mostra como a indústria pode ser um vetor de desenvolvimento socioeconômico, desde que acompanhada de políticas públicas eficientes, qualificação profissional e responsabilidade ambiental. Hoje, mais do que um polo produtivo, Três Lagoas é um case nacional de sucesso — exemplo de como planejamento e investimento podem transformar realidades e projetar cidades para o futuro.