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Com indenizações pagas, produtores rurais começam a deixar lotes no Cinturão Verde

Desapropriações começaram a ser pagas, mas moradores lamentam deixar casas e histórias construídas há décadas

Obras do contorno rodoviário de Três Lagoas mudam a rotina de famílias no Cinturão Verde - Foto: Arquivo
Obras do contorno rodoviário de Três Lagoas mudam a rotina de famílias no Cinturão Verde - Foto: Arquivo

As obras do contorno rodoviário de Três Lagoas já começaram a transformar a realidade de quem vive há anos no Cinturão Verde, região que abriga pequenos produtores. Ao todo, 17 lotes estão sendo desapropriados para dar lugar à nova rota de acesso à rodovia — que tem como objetivo retirar o tráfego pesado de caminhões da avenida Ranulfo Marques Leal, uma das principais vias urbanas da cidade.

A boa notícia é que as indenizações começaram a ser pagas. A notícia, no entanto, é recebida com pesar por moradores como a dona Magna Aparecida, que vive há mais de duas décadas na região e agora se vê obrigada a deixar o terceiro lote onde recomeçou a vida. “Foi dado um prazo de 60 dias para a gente desocupar a área. Eles falaram que tem até 30 dias para o dinheiro cair na conta. Mas a gente só sai quando estiver tudo certo. Como que a gente vai sair de um lugar sem ter para onde ir, onde colocar nossas coisas?”, questiona.

Com 12 anos só no atual lote e 22 no total dentro do Cinturão Verde, Magna conta que a perda vai além do espaço físico. “Aqui a gente tinha paz, criei meus bichos, plantei cada árvore que agora vai ser derrubada. Tudo o que está aí fomos nós que fizemos. Formei dois lotes do zero. É uma tristeza.”

Ela lembra ainda que por oito anos forneceu alimentos para as escolas do município e vendia para moradores da cidade. “Toda a vida eu produzi. Agora a gente recebe só pelas benfeitorias, e não pela terra. E o contrato já venceu, a terra não é nossa. O que é certo é certo, né?”, diz resignada.

O produtor Edson Roni também se despede do lote onde viveu e criou os netos por 15 anos. “Já desmanchei uma casa, agora vou desmanchar a outra. Dentro de dois meses temos que deixar tudo limpo para o Dnit. A indenização já caiu na conta. Graças a Deus deu certo. Mas minha netinha, que tem dez anos, chora todo dia para não ir embora. A gente trabalhou muito aqui.”

Enquanto o contorno rodoviário se projeta como uma obra fundamental para a mobilidade e o crescimento da cidade — ligando Três Lagoas de forma mais eficiente ao Estado de São Paulo —, ele também imprime marcas profundas em quem ajudou a construir com suor e dedicação o presente do município.