Todo mês de junho, uma rua do bairro Vila Piloto, em Três Lagoas, se transforma em um verdadeiro arraial. A Festa Junina da rua 9, organizada há três décadas pelos próprios moradores, virou patrimônio afetivo da comunidade. Com comidas típicas, música ao vivo, decoração feita à mão e, principalmente, muito amor pela tradição, a celebração mostra a força da cultura popular e da união entre vizinhos.
A história começou com a moradora Eva, que deu início à festa como forma de reunir as famílias e alegrar as crianças do bairro. Mesmo após sua partida, o desejo dela foi respeitado por quem ficou. “Ela pediu com todo o amor pra gente continuar, por causa das crianças, que é uma tradição muito boa no mundo inteiro. Aí eu falei: enquanto eu tiver vida, a gente vai continuar”, conta Maria Nilza dos Santos, uma das organizadoras.
Tudo na festa é feito de forma comunitária, cada morador contribui com o que pode, seja cozinhando, decorando ou ajudando financeiramente. A organização começa com até dois meses de antecedência e é marcada por reuniões, divisão de tarefas e arrecadações entre os vizinhos. “Aqui é assim: um faz a canjica, outro o arroz doce, outro o bolo… Vai juntando. Cada um dá R$ 1,50, R$ 10, R$ 30, o que puder. Aí tem o balão, o algodão-doce, a pipoca… Tudo certinho”, explica Nilza.
A estrutura do evento também é cuidadosamente pensada. Os moradores fazem questão de protocolar com antecedência o pedido de interdição da rua para garantir a segurança dos participantes. “Com 30 dias de antecedência, passamos o livro de adesão. Todo mundo assina, avisamos a polícia e o trânsito. A rua fica fechada o dia todo. Tem fogueira grande, tudo com segurança”, detalha dona
Marlene, que há anos prepara arroz doce e canjica em mais de 150 copinhos.
Mais do que uma festa, o evento é um ponto de encontro das memórias afetivas da comunidade. “Quando começamos, nossos filhos eram pequenos. A gente fazia pipoca, algodão-doce… Eles comiam à vontade. Hoje são os netos e bisnetos que aproveitam. E a gente continua, com alegria”, lembra Nilza.
Para muitos, como Eurides Lopes dos Santos, a Festa Junina da rua 9 tem um valor que vai além da diversão. “É uma tradição que ninguém tira de nós. Nós somos fundadores da festa e, mesmo que outros lugares façam também, igual à nossa, acho que não existe. Aqui é tudo familiar”, afirma.
A força da festa é tamanha que inspira outras comunidades. “Tem gente que vem aqui depois da nossa festa para pegar bandeirinhas e fazer a deles. E a gente acha bom, é sinal de que gostam do que a gente faz com tanto carinho”, completa Eurides.
Entre o cheiro de milho verde, o som da sanfona e a alegria compartilhada, a Rua 9 se confirma como símbolo vivo de uma tradição que atravessa gerações. Mais do que um evento anual, a festa é prova de que, quando há união, memória e amor pelas raízes, uma rua pode se tornar um verdadeiro arraial de afeto.