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Ressignificação

Mulher transforma vivência com o autismo em apoio a outras famílias

O laudo tardio de TEA, abriu as portas para que, aos 30 anos, Inaê tivesse o seu próprio espaço de acolhimento

Inaê e o filho, de 9 anos, possuem o diagnóstico de TEA e TDAH. Foto: Reprodução/Agência Brasil.
Inaê e o filho, de 9 anos, possuem o diagnóstico de TEA e TDAH. Foto: Reprodução/Agência Brasil.

O autismo ainda é cercado por estigmas, desinformação e silêncios — especialmente quando se trata de mulheres adultas. Em meio a esse cenário, histórias de superação ganham força quando se tornam caminhos para outros. É o que faz Inâe Santana, diretora do Espaço ABA Muriel, ao transformar a própria trajetória de vida em acolhimento para famílias que convivem com o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Comemorado em 18 de junho, o Dia do Orgulho Autista chama a atenção para a necessidade de uma sociedade mais inclusiva e atenta à diversidade neurológica. Para Inâe, no entanto, o orgulho é construído diariamente, em meio a desafios, descobertas e lutas por compreensão.

O diagnóstico veio tardiamente, aos 30 anos. Antes disso, ela já havia recebido o laudo de TDAH aos 7, mas a rigidez social, a sensibilidade sensorial e o sentimento constante de inadequação permaneciam sem resposta. “Naquela época, os profissionais não falavam muito sobre esse assunto e eu fui crescendo com várias dificuldades. Hoje eu tenho diagnóstico de TEA, TDAH e TAG”, relata.

A maternidade foi decisiva nesse processo. Ao buscar respostas para os comportamentos do filho, hoje com 9 anos, Inâe se reconheceu nos sinais. Ambos foram diagnosticados com autismo. “Há três anos, comecei meu processo de avaliação e meu filho também foi diagnosticado. O primeiro laudo veio aos dois anos; agora, em uma segunda realização, também foi confirmado”, explica.

A dor, no entanto, deu lugar à ação. Ao perceber a carência de espaços preparados para receber crianças e famílias atípicas, Inâe fundou o Espaço ABA Muriel, onde hoje coordena atividades, escuta relatos e oferece suporte com empatia. “Trabalhava com todas as faixas etárias, cuidava de bebês até jovens e, com as famílias gostando do meu trabalho, decidi abrir o meu próprio espaço. Eu queria fazer a diferença”, afirma.

O espaço não é apenas físico — é também simbólico. É onde mães se sentem ouvidas, crianças podem ser autênticas e profissionais atuam com sensibilidade. Para Inâe, essa representatividade é fundamental. “Durante anos, meu terapeuta trabalhou isso comigo, para que eu conseguisse falar abertamente sobre o meu diagnóstico. Somente no ano passado, falei pela primeira vez em público e agora palestro e ajudo outras famílias.”

Mesmo diante de avanços na informação e no diagnóstico, o preconceito ainda é um desafio cotidiano. “Todos os dias tem uma barreira, todos os dias é uma luta. Eu tenho orgulho de ser autista, mas é uma batalha diária por causa do preconceito. Às vezes, quando eu coloco meu crachá, as pessoas me olham e me julgam, porque não tenho uma deficiência que seja visível”, reflete.

Em um mundo que ainda insiste em cobrar normatizações, a história de Inâe é, antes de tudo, um lembrete: diversidade não é exceção — é parte essencial da existência humana.