O Presídio Feminino de Três Lagoas vem se destacando pelo trabalho de ressocialização desenvolvido com as internas. A unidade tem buscado parcerias com empresas e instituições para oferecer oportunidades de trabalho e cursos de capacitação, com resultados já visíveis na prática, mulheres que deixaram o sistema prisional conseguiram recomeçar a vida profissional e pessoal.
Desde fevereiro, quando a nova direção assumiu a unidade, o foco passou a ser o trabalho e a profissionalização. Atualmente, o presídio abriga cerca de 110 mulheres, e mais da metade delas já participa de atividades laborais dentro ou fora das celas.
De acordo com a diretora da unidade, Yara Barnabé da Silva, a transformação tem sido possível graças às parcerias firmadas com empresas e entidades. “Desde que assumi, meu foco é transformar essa unidade em um espaço de trabalho. Já trouxemos mais duas empresas, e a quantidade de mão de obra aumentou de 20 para quase 60 internas trabalhando remuneradamente. Isso tem contribuído muito para manter a disciplina, já que elas passam boa parte do tempo fora das celas e precisam seguir regras rigorosas para manter o emprego”, explica.
As internas que descumprem as normas perdem a vaga de trabalho, abrindo espaço para outras detentas. Um dos setores em funcionamento é o de confecção de aventais, que produz em média de 2.800 a 3.000 peças por dia para uma fábrica no interior de São Paulo.
Romilda Antônio Moraes, gerente de uma empresa de Birigui, conta que decidiu abrir uma pequena filial dentro do presídio, gerando 20 empregos para as internas. “Além de ser um trabalho bonito, é uma oportunidade real de recomeço. Começamos com poucas pessoas, e hoje já chegamos a produzir até 55 mil peças por mês. Muitas delas saem daqui e continuam em contato, dizendo que estão bem e trabalhando. Isso mostra que o projeto dá certo”, destacou.
Uma das internas, que não vamos identificar, afirma que o trabalho representa uma mudança de vida. “Ajudou muito. A gente passa o tempo ocupada, ganha dinheiro e ainda reduz a pena. É melhor do que ficar parada”, disse.
O trabalho dentro das fábricas é apenas uma das frentes do processo de ressocialização. Em setembro, foi lançado o Projeto Alvorecer, que garante às internas que se destacam a oportunidade de serem contratadas pelas empresas parceiras após deixarem o regime fechado. “Além de aprenderem uma profissão, elas têm a chance de continuar trabalhando quando saírem daqui. É uma forma concreta de reinserção social”, reforça a diretora.
A unidade também tem apostado em cursos profissionalizantes em parceria com o Conselho de Segurança Pública e o Senar, que já ofereceu capacitações em hidráulica, pintura e obras. “A ideia é trazer cursos que realmente possam ser utilizados lá fora, para que elas tenham uma profissão e uma nova perspectiva de vida”, disse Yara.
Outro destaque é a horta da unidade, revitalizada neste ano. O espaço voltou a produzir e tem servido como ferramenta de aprendizado e colaboração entre as internas. “A horta é o meu carro-chefe. Está produzindo bem, e nosso projeto é realizar trocas de hortaliças por kits de higiene ou destinar parte da produção a instituições carentes”, contou.
Eurides Silveira de Freita, presidente do Conselho de Segurança da Costa Leste e do Instituto de Desenvolvimento Social, Econômico e Ambiental de Mato Grosso do Sul, reforça a importância das ações conjuntas. “Estamos unindo forças com o Lions, o Rotary e a Pastoral Carcerária para ampliar as qualificações. Quando elas saírem, vamos encaminhá-las ao Sebrae para que possam abrir suas próprias empresas, com todo o suporte necessário para começar uma nova fase”, afirmou.
Com os projetos em andamento e o envolvimento de diferentes setores da sociedade, a diretora da unidade destaca que o Presídio Feminino de Três Lagoas tem se consolidado como um modelo de ressocialização no sistema prisional do Estado, oferecendo às internas uma oportunidade real de reconstruir trajetórias e retomar a vida fora dos muros.