
A greve do transporte coletivo urbano em Campo Grande começou nesta segunda-feira (15) e continua por tempo indeterminado, afetando linhas em toda a capital sul-mato-grossense e dificultando o deslocamento de milhares de usuários. O Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande (STTCU-CG) decidiu manter a paralisação mesmo após o pagamento parcial dos salários, exigindo a quitação integral dos valores pendentes para o retorno às atividades.
Exigências da categoria e decisão Judicial
O Consórcio Guaicurus, responsável pelo serviço, depositou apenas 50% da folha salarial de novembro, que deveria ter sido paga na íntegra até o dia 5 de dezembro. O presidente do Sindicato, Demétrio Freitas, afirmou que a suspensão da greve exige o pagamento de 100% do salário atrasado, do décimo terceiro salário e do adiantamento previsto para o dia 20.
A falta de recursos do Consórcio para esses pagamentos e para o adiantamento de dezembro aumentou a insegurança da categoria, levando os motoristas a aprovarem a greve por unanimidade na madrugada de quinta-feira.
Em resposta à paralisação, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 24ª Região, por meio do Desembargador Federal do Trabalho Cesar Palumbo Fernandes, determinou que o STTCU-CG garanta a manutenção mínima de 70% dos trabalhadores em atividade, limitando a paralisação a no máximo 30% da força de trabalho. A decisão, tomada no domingo (14), impôs uma multa diária de R$ 20.000,00 em caso de descumprimento, além de ordenar uma audiência de conciliação para terça-feira (16), às 15h45.
O drama dos usuários
A paralisação, mesmo parcial, já gera grandes transtornos para a população. Roseli da Silva Leão, diarista e moradora do Aero Rancho, relata que a rotina do transporte é “horrível”. Ela depende de ônibus para ir do Aero Rancho até áreas distantes como Santa Mária ou a Avenida Bom Pastor.

A diarista detalha o longo tempo gasto no trajeto: “Por Santa Mária até duas horas. Até duas horas, se não quebra”. Sobre a determinação judicial de que parte do transporte deveria estar em circulação, Roseli criticou a medida: “Eu acho uma besteira. Ou é 100%, 200% ou é nada. Porque 100% já não tá funcionando. 70% vai dar muita briga e transtorno”. Ela complementa a crítica: “É uma palhaçada o que está acontecendo nesse campo grande desde o início do ano”.
Devido à greve, Roseli precisou interromper sua jornada de trabalho. “Estou indo para casa, porque se eu continuar o meu trajeto, vou pagar o dia, não receber“. Ela estava vindo do médico e seguia a pé para conseguir um Uber mais barato e voltar para casa. A notícia no serviço, de que não trabalharia por conta da paralisação, gerou um “caos” , mas a supervisão foi compreensiva porque “o Uber tá caro e a minha diária não compensa pagar Uber”.

A usuária Isabela Letícia Dias, doméstica, pega o ônibus 81 em seu ponto diário, indo em direção ao Terminal General Osório , descreve o dia como “péssimo“. Ela chegou ao ponto às 7h06, tentando chegar ao serviço às 8h, mas não encontrava ônibus.
Isabela reclama do aviso tardio. “A gente espera todo dia ônibus aqui, aí chega de uma hora pra outra. Avisaram a gente domingo pra segunda-feira. Como é que a gente faz?“. Ela relata que o Uber está acima do valor usual. Enquanto o valor normal para o trajeto seria R$ 15,00 ou R$ 20,00, sendo que a passagem de ônibus é de R$ 4,95 pelo transporte público.
A usuária demonstra solidariedade aos grevistas, apesar do transtorno. “Eu tenho que pagar e eles estão certos, realmente. Eles não receberam, a gente trabalha, a gente recebe. Eles não receberam pra trabalhar, eles estão certos“. Ela complementa que muitas pessoas não podem ir ao trabalho: “Tem muita gente que não vai, né? Porque como não tem dinheiro pra pagar Uber, pega o passe de ônibus em cartão, não tem como ir e fica por isso mesmo.
O Consórcio e a inadimplência municipal
O Consórcio Guaicurus lamenta a situação dos trabalhadores e justifica o atraso e o pagamento parcial devido à “inadimplência reiterada do Município de Campo Grande/MS no repasse do subsídio financeiro”.
Segundo o Consórcio, a Prefeitura deve um subsídio superior a R$ 39 milhões desde 2022, valor que causou a quebra do equilíbrio econômico-financeiro do contrato. O pagamento da dívida com os funcionários depende da regularização desses repasses públicos.
A Câmara de Dirigentes Lojistas de Campo Grande (CDL) também acompanha o caso, ressaltando que o transporte é atividade essencial e a lei prevê a manutenção de 30% do serviço em caso de greve. A CDL aponta a expectativa de que o Governo do Estado repasse à Prefeitura mais de R$ 4 milhões referentes ao convênio do Passe do Estudante Estadual, um recurso que poderia auxiliar na regularização dos pagamentos.
Enquanto as negociações entre Consórcio, Prefeitura e Governo do Estado não avançam, e a decisão judicial exige 70% da frota, milhares de cidadãos seguem enfrentando grandes dificuldades para se deslocar pela cidade.