Baseada nos princípios de economia e desenvolvimento sustentável, a moda circular tem caído no gosto e no bolso dos campo-grandenses. O mercado se desenha como uma aposta crescente, chegando até as peças de luxo, vendidas em lojas especializadas.
Até pouco tempo, luxo e brechó era uma combinação impensável, que agora faz parte do dia a dia de consumidoras de alto poder aquisitivo, que encontraram nas peças de ‘second hand’, como são chamadas as roupas, calçados e acessórios de segunda mão, uma maneira de adquirir peças de marca em bom estado e ainda frear o consumo do fast fashion.
Segundo pesquisa da Globaldata, a revenda de peças usadas cresceu 21 vezes mais que a venda de roupas novas, com faturamento estimado em US$ 51 bilhões em 2023, cerca de R$ 235 bilhões.
A jornalista Carmen Juliana (@cajuindica), já enxerga esse crescimento no Brasil, principalmente nos grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro. Morando em Campo Grande, Caju, como é conhecida nas redes sociais, vê o mercado local despertando para a moda ‘second hand’.
“Em 2010, quando eu morei em Londres, eu comecei a consumir de brechós de algumas marcas famosas que já tinham em Londres. Então, eu vejo que aqui em Campo Grande principalmente é uma tendencia que começou a aumentar de uns cinco anos para cá, principalmente agora, que tem vários brechós na cidade. Então eu acho que é algo que veio para ficar e cada vez mais a crescer”, aposta.
Acreditando no potencial do mercado, assim como Caju, a empreendedora e design de moda, Barbara Queiroz (@barbara_rosaqueiroz), decidiu investir no segmento. A personal stylist trabalhou por 14 anos no varejo e também conheceu a moda ‘second hand’ em Londres. Ao voltar para o Brasil, Barbara passou a apresentar o conceito para as clientes.
“Elas estão compreendendo a importância de terem essa prática do consumo consciente, de ter um olhar sustentável, e fazer a moda circular. Esse seguimento sofreu muito preconceito, sofre ainda, mas graças a internet elas estão compreendendo o tanto que é importante elas terem essa prática e principalmente contribuírem para a sustentabilidade, porque é uma prática super inteligente”, explica.
De marcas renomadas, as peças oferecem um custo benefício muito positivo em relação ao preço de uma nova. O que atrai consumidoras de alto poder aquisitivo, além da possibilidade de serem fornecedora dos produtos, como roupas que usaram em uma única ocasião ou peças que já não condizem com o estilo atual, abrindo espaço para uma nova peça.
“A cliente que tá comprando no mercado de ‘second hand’ tem muitos benefícios, porque ela tá pagando mais barato que na loja, muitas vezes tá pegando uma peça que já não existe mais, exclusiva, é uma peça as vezes de colecionadora. Ela vai usar essa peça durante um tempo, e se ela tiver interesse em vender no futuro, ela vai vender por um valor bacana, porque hoje a gente tá vendo o tanto que as bolsas e acessórios de luxo estão se valorizando no mercado”, conta.
Ainda permeados de preconceitos, os brechós foram impulsionados pela ideia de consumir de maneira sustentável. Isso porque, na produção de peças novas a indústria têxtil se torna uma das mais poluentes do planeta, sendo responsável por 10% das emissões de carbono na atmosfera, além do grande volume de peças descartadas.
Para a consultora de imagem e estilo, Fabiane Mariano (@fa_mariano), esse foi um dos principais fatores para a aceitação da moda circular. Formada em direito, a profissional passou a procurar lojas de ‘second hand’ após perceber que muitas clientes não sabiam o que fazer com peças pouco usadas.
Com o tempo, a ideia negativa em relação aos brechós foi perdendo espaço para os benefícios financeiros e sustentáveis. “Quebrando aquele tabu de que peças de segunda mão são coisas velhas ou muito usadas. Eu tenho clientes que peças que nunca foram usadas”, diz. Em relação a Mata Grosso do Sul, Fabiane ainda nota uma ideia mais conservadora por parte das consumidoras na adesão à moda ‘second hand’.
“Realmente tem um pouco de resistência, mas temos visto bastante lojas, principalmente virtuais quebrando um pouco esse tabu, franquias grandes surgindo aqui em Campo Grande e tem um estudo recente do Sebrae aqui do estado que falou que o consumo de peças de segunda mão aumentou em 48% nos últimos anos, principalmente por conta da pandemia”, completa Fabiane.
Com o avanço da moda ‘second hand’, consumidoras, fornecedora e profissionais do meio apostam que o estilo de consumo vai seguir crescendo e tomando espaço nos guarda roupas de Campo Grande. “Com certeza eu acredito que isso vai ficar, é o futuro. Porque, além de colocar para circular peças, você faz o seu dinheiro circular. O que é caro, é aquilo que a gente não usa. Então, roupa parada se torna cara”, fecha a consultora de imagem e estilo.