Em um marco histórico para a agropecuária brasileira, Mato Grosso do Sul foi oficialmente reconhecido como área livre de febre aftosa sem vacinação pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). A certificação foi concedida nesta quinta-feira (29) durante a 92ª Sessão Geral da entidade, em Paris, França.
A conquista é resultado de um esforço contínuo iniciado em 2005, após a reintrodução do vírus no Estado. Desde então, foram implementadas ações rigorosas de vigilância sanitária, campanhas de vacinação e, mais recentemente, em 2023, com a ausência de casos, foi suspensa a imunização, seguindo os protocolos internacionais exigidos para a obtenção do novo status.
Essa atualização sanitária abre portas para exportações mais qualificadas e para acordos bilaterais com países que exigem altos padrões de biossegurança animal.
“A partir de agora, produtores vão ter mercados abertos, mercados nobres e agora temos que buscar esses mercados, porque isso amplia a nossa exportação, atrai investimento, gera mais emprego, agrega valor para os nossos produtos“, destacou o governador Eduardo Riedel.
Com o certificado internacional de área livre de febre aftosa, Mato Grosso do Sul passa a integrar a elite sanitária da pecuária mundial, formada por países e regiões que erradicaram a doença sem depender da vacinação, como Japão, Chile e parte dos Estados Unidos.
Para o secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, o status sanitário não é apenas um título, mas uma ferramenta estratégica.
“Isso representa um novo patamar para a pecuária sul-mato-grossense, que já era de excelência, de qualidade, mas que agora atinge novo status”, disse Verruck que esteve presente à cerimônia de anúncio de certificação ocorrida às 5h20 (horário de MS) e 11h20 (horário da França).
O diretor-presidente da Iagro (Agência Estadual de Vigilância Sanitária Animal e Vegetal), Daniel Ingold, ressaltou o papel fundamental da agência no processo, com a coleta de mais de 8 mil amostras de bovinos e a ampliação da equipe técnica.
O desafio agora será manter a vigilância e cumprir rigorosamente os protocolos internacionais de controle sanitário. A meta, segundo a Iagro, é consolidar o protagonismo da pecuária sul-mato-grossense nos próximos anos, com sustentabilidade, rastreabilidade e abertura de novos mercados.
Exportações ampliadas
A decisão da OMSA também reflete no relacionamento com o bloco europeu, que há anos adota exigências sanitárias rigorosas para importação de carne bovina.
Com o novo status sanitário, O rebanho estadual — atualmente com mais de 18 milhões de cabeças — tende a valorizar ainda mais no mercado.
Em 2024, o Estado exportou cerca de US$ 1,278 bilhão em carne bovina, equivalente a 282,21 mil toneladas, com destaque para China, Estados Unidos e Chile. E, a partir de agora, Mato Grosso do Sul também amplia sua capacidade de exportação para mercados como Japão e Coreia do Sul.
Repercussão no campo
Os produtores também comemoram a certificação internacional. Para o presidente da Famasul, Marcelo Bertoni, o momento é de reconhecimento à competência do setor produtivo. “Mostramos ao mundo a qualidade do nosso sistema de defesa, a rastreabilidade dos nossos produtos e a força da nossa pecuária”, declarou.
Além de Mato Grosso do Sul, outros 20 estados brasileiros e o Distrito Federal também receberam o reconhecimento da OMSA, consolidando o Brasil como país livre de febre aftosa sem vacinação. Até então, apenas Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Acre, Rondônia e partes do Amazonas e do Mato Grosso detinham esse reconhecimento.
Febre Aftosa
A febre aftosa é uma das doenças mais temidas na pecuária mundial por seu alto poder de disseminação e pelos prejuízos econômicos que causa.
É causada por um RNA-vírus, pertence à família Picornaviridae, gênero Aphtovirus, possui sete tipos imunologicamente distintos ( A, O, C, SAT 1, 2, 3 e Ásia 1), dentre os quais identificaram pelo menos 60 subtipos. No Brasil estão presentes apenas os sorotipos A, O e C.
Desde o início da profissionalização da produção de carne, a luta contra a doença se intensificou globalmente. No Brasil, o combate começou oficialmente em 1950 e passou por diferentes fases, até a criação do Plano Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA) em 2017, com o objetivo de erradicação completa até 2026.