RÁDIOS
Campo Grande, 20 de setembro

Crescimento nos casos de ansiedade em jovens aumenta o número de atendimentos e internações em MS

Demanda por tratamento psicológico e psiquiátrico aumenta 60% em Campo Grande, enquanto internações por ansiedade superam números de 2023

Por Mateus Adriano
05/09/2024 • 15h30
Compartilhar

A estudante Bruna Querino descobriu em 2017 um quadro de ansiedade. “Eu estava já dois dias sem dormir. Levantei da cama e eu vi que tinha passado mais um dia, esse segundo dia que eu não tinha dormido, e me bateu uma crise de desespero. Eu comecei a chorar muito, muito, muito. Foram uns 30 minutos chorando. Fui até o quarto da minha mãe e não consegui explicar o que estava acontecendo. Estava com muita dor no peito

Ela não precisou ser internada, mas, 7 anos depois, continua com o tratamento por meio de medicamentos e acompanhamento psicológico. “Eu comecei um tratamento bem intensivo com a psicóloga no início. Na primeira semana eu fui todos os dias, aí depois eu comecei três vezes na semana e depois duas vezes na semana. Hoje em dia eu ainda faço uso de medicamentos para ansiedade. Eu tenho ansiedade ainda. Mas eu sei lidar com ela”.

O tratamento de Bruna é feito na rede privada de saúde, mas nem todos têm condições financeiras de arcar com esses atendimentos. Nesses casos é preciso recorrer ao SUS.

Em Campo Grande, por exemplo, cresceu a procura por atenção primária nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Segunda a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), de janeiro a julho deste ano já foram feitos 3.425 atendimentos para casos de estresse e ansiedade. Número 60% maior do que no mesmo período do ano passado.

A enfermeira e especialista em Saúde Mental, Priscila Marcheti Fiorin, destaca que alguns sinais podem indicar que a pessoa precisa de ajuda profissional. “Esses jovens começam a apresentar uma preocupação excessiva com o futuro, com o que vai acontecer com eles, que tipo de estudo, faculdade, se eles vão passar no Enem, no vestibular. E isso acaba incomodando muito essa pessoa. Trazendo preocupações, pensamentos do que os outros vão pensar dele, se ele não conseguir atingir as expectativas. Então, começa a apresentar sintomas até físicos, como queixas de dores, tremores, tensões musculares, sudorese excessiva, principalmente nas palmas das mãos, palpitações, medo. Começa a ter um nervosismo muito grande, calor, sensação de desconforto no peito”.

Para algumas pessoas, o caso pode ser ainda mais grave. Somente no primeiro semestre de 2024, Mato Grosso do Sul registrou 127 casos de internações por estresse e ansiedade em jovens com idade entre 13 e 29 anos. Esse número já é maior do que todo o ano de 2023, segundo dados do Sistema Nacional de Atendimento Médico (Sinam).

A especialista em saúde mental, explica os fatores que levam um paciente a ser internado. Quando esses sinais e sintomas acabam causando um dano que eu preciso de um acompanhamento mais próximo. Então, que tipo de dano? Muitas vezes relacionado a nutrição desequilibrada, enfim, eu acabo deixando de comer porque eu estou muito ansioso, ou ao contrário, eu como demais por estar muito ansioso. Então, ou ele tem um desempenho de papel ineficaz dentro daquilo que ele faz, então ele precisa se organizar, ele precisa, aí ele precisa internar justamente para isso. Ou é uma pessoa que acabou ficando isolada, E esse isolamento vem causando, então, sofrimento, mais sofrimento mental, tanto nele como na família

Segundo o Gerente De Atenção Psicossocial da Secretaria Estadual de Saúde, Pedro Augusto Rabello, o aumento no número de internações pode estar ligado a fatores econômicos, sociais e até mesmo tecnológicos. “A gente pode destacar uma alta pressão acadêmica e profissional. Então os jovens enfrentam uma pressão crescente para se destacarem academicamente, principalmente no início de suas carreiras”, explica Rabello. Outro ponto enfatizado é a alta competitividade no mercado de trabalho, que resulta em uma insegurança maior em relação ao futuro. Rabello, ainda explica que a exposição constante nas redes sociais pode causar efeitos negativos na autoestima, e causar casos de ansiedade e de depressão.

O enfrentamento a essa situação é feito a partir de ações conjuntas, como a parceria das Secretarias de Saúde e de Cidadania para a realização da Semana Estadual da Juventude, prevista para este mês. Segundo o Subsecretário de Políticas Públicas para a Juventude, Jessé Fragoso da Cruz, a saúde mental é um dos principais focos do projeto. “Nós já estamos ouvindo a juventude nesse sentido para sermos mais assertivos nas ações e materiais que nós desenvolvemos e já estamos desenvolvendo”.

Mas as ações também têm que acontecer dentro de casa. A Bruna, que apareceu lá no início desta reportagem, contou com o importante apoio familiar e foi atrás da ajuda profissional. Hoje, ela percebe a importância de ter buscado o tratamento.

Nunca mais precisei ir para o hospital com uma crise forte. Hoje em dia eu aprendi como funciona o meu organismo, como funciona a minha mente. Então foi muito importante eu ter me dedicado logo no início do tratamento. Eu até saí do cursinho, voltei só no segundo semestre, depois foram dois meses que eu fiquei só no tratamento. Foi muito importante para hoje em dia eu conhecer, entender os sintomas e estar muito bem. Hoje em dia eu estou super tranquila, eu consigo lidar com a minha ansiedade”.

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.

Mais de CBN Campo Grande