A região paulista do Baixo Tietê está sendo cogitada pela Eletronuclear, empresa estatal, ligada ao Ministério de Minas Energia, para a construção e instalação de uma usina nuclear, geradora de energia elétrica. As duas outras opções são a região do Rio Grande, na divisa dos estados de Minas Gerais e São Paulo, e a região da foz do Rio Doce, no Espírito Santo.
A área do Baixo Tietê foi indicada pelo presidente da Eletronuclear, Othon Pinheiro, alegando ser a mais próxima do mercado consumidor de energia. Ele teria até indicado a região entre as cidades paulistas de Ilha Solteira e Castilho, mais precisamente, já estariam sendo sondadas áreas nos municípios de Itapura e Pereira Barreto, naquela região do extremo noroeste do estado de São Paulo. A operação desta nova usina nuclear está prevista para 2030, segundo estudos, já em andamento do Plano Nacional de Energia.
Próxima à divisa do estado de São Paulo com Mato Grosso do Sul, a região Baixo Tietê possui uma população estimada em mais de 750 mil habitantes, distribuídos em 42 municípios.
O estudo da nova usina nuclear ainda não foi divulgado, mas os municípios da região, desde Araçatuba até Castilho, já começaram a mobilizar-se contrários ao projeto de geração de energia nuclear.
Especula-se que três vizinhos municípios paulistas da região, como Itapura, Ilha Solteira e Pereira Barreto, estariam já na lista dos que ofereceriam melhores condições para receber o projeto da Eletronuclear.
A estatal de energia nuclear pretende trabalhar primeiro na escolha e definição de um local para a central nordestina, batizada preliminarmente de Guararapes. Está praticamente definido que será construída em algum ponto às margens do Rio São Francisco, entre a represa de Xingó e a foz desse rio, na divisa entre os estados de Sergipe e Alagoas.
Os técnicos da Eletronuclear começam no segundo semestre a avaliar a região, em um trabalho que deve durar pelo menos dois anos. Entre os aspectos em estudo e que deverão ter peso nas decisões, estão a qualidade do solo e a aceitação positiva da sociedade local, que vê o investimento como saída para o aquecimento da economia local.
MOBILIZAÇÃO
Logo que tomaram conhecimento do surgimento do projeto de construção de uma usina nuclear, na região do Baixo Tietê, líderes políticos, entidades e Organizações Não Governamentais (ONGs), voltadas para a preservação do meio ambiente, começaram a promover atos de mobilização, para que a sociedade se posicionasse contrária ao projeto.
Já foram realizados atos públicos nas Câmaras Municipais das vizinhas cidades paulistas de Castilho e Andradina e outras cidades programam mais mobilizações, a partir de agosto.
Inicialmente, estima-se que o número de abaixo-assinados tenha ultrapassado a casa das 10 mil assinaturas de cidadãos que oficialmente já se posicionaram contrários à construção de uma usina nuclear na região.
Em Três Lagoas e nas cidades paulistas vizinhas, incluindo, a coleta de assinaturas, está sendo coordenada pela ONG de Defesa do Meio Ambiente e do Patrimônio Cultural de Castilho e Região (ECONG).
Outras manifestações e coleta de assinaturas estão marcadas para Ilha Solteira, na próxima segunda-feira, três de agosto.
TRÊS LAGOAS
Em Três Lagoas, além da ECONG de Castilho, a Câmara Municipal, segundo antecipou, nesta semana, o vereador Jorge Augusto Martinho, irá encabeçar a mobilização de protesto contra a construção de uma usina nuclear na região, já que o Rio Tietê deságua no Rio Paraná, em Ilha Solteira. “Diretamente também sofreremos os impactos ambientais do anunciado empreendimento”, alertou Jorge Martinho, numa emissora de rádio local.
Jorge Martinho informou que a Câmara Municipal já enviou ofício ao presidente da Eletro Nuclear, Othon Pinheiro, requerendo mais informações sobre o projeto da Usina.
O vereador antecipou que, independente da resposta, que está sendo aguardada, a Câmara Municipal, logo nas primeiras sessões, após o recesso, a partir do dia 4 de agosto, estará discutindo essa questão em Plenário.
O secretário municipal de Meio Ambiente, Cristovam Lages Canela, informou que vem acompanhando o desenrolar dos fatos, que dizem respeito ao “eventual” projeto de construção de uma usina nuclear, na região. “É prematuro ainda a gente se manifestar sobre essa questão”, observou Canela, mostrando todo o material informativo sobre a questão e a mobilização que já se iniciou em Castilho e Andradina. “Não temos ainda elementos suficientes para avaliar os impactos ambientais do empreendimento, nem sabemos ainda se ele realmente virá”, comentou.
Por sua vez, o secretário executivo da ECONG de Castilho, Roberto Franco, Três Lagoas também terá um dia de protestos e coleta de assinaturas, inicialmente agendado para o dia 9 de agosto.
A mobilização de protestos também conta com o apoio da Associação dos Municípios do Extremo Noroeste do Estado de São Paulo e dos diretórios de estudantes universitários da Universidade do Estado de São Paulo (UNESP) e da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).