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Três Lagoas

Jornalista do "NYT" conta como foi a cobertura do 11/9

Jornalista contou qual foi a sua rotina naquele dia e como os profissionais da área colocaram ordem no caos de informações sobre o evento do século XXI

Serge Schmemann assinou a reportagem que todo o jornalista gostaria de assinar no jornal onde todo jornalista gostaria de trabalhar. No dia 12 de setembro de 2001, seu nome saiu estampado na capa do New York Times na abertura do texto que narrou o que havia acontecido no dia anterior. Em uma conversa com o Terra, Schmemann, 66 anos, que já foi vencedor do prêmio Pullitzer ao escrever sobre a reunificação da Alemanha, contou qual foi a sua rotina naquele dia e como os jornalistas colocaram ordem no caos de informações para conseguir cobrir o maior evento jornalístico do século XXI.

Terra – Qual seria a sua rotina naquela terça-feira de setembro?
Serge Schmemann – Eu era correspondente do New York Times nas Nações Unidas. Eu morava em Manhattan e iria até a rua onde fica localizada a ONU. Mas ao invés disso, minha mulher, que estava trabalhando na escola, saiu mais cedo, e me ligou e disse que um avião tinha se chocado no World Trade Center. Naquele momento ela pensou ¿ e eu acho que é o que diziam as primeiras informações ¿ que se tratava de uma pequena aeronave. Logo ao percebi que nós estávamos em uma crise massiva. Fazia um belo dia, um belo dia de sol.

Terra – E então, os planos mudaram. O que você fez?
Schmemann – Eu me dei conta de que o prédio das Nações Unidas estaria fechado, e alguma coisa me disse, não sei explicar bem, apenas estava claro pra mim, que eu estaria à frente da história principal. Naquele momento, eu estava me preparando para ir à redação do Times. Eu comecei a pensar em como organizar a reportagem: quem deveria estar onde, como as pessoas deveriam ser instruídas para separar o material… Foi uma sensação estranha, mas eu passei o dia inteiro com uma espécie de pensamento organizador. Eu me dei conta também de que eu deveria ir ao escritório oficial do Times, e não à ONU, mas toda a rede de metrô havia parado. Eu conseguir ir com um caminhão que fazia serviços de emergência. Todo mundo estava saindo de Downtown, caminhando na direção contrária das Torres Gêmeas.

Terra – Como funcionou a dinâmica da cobertura?
Schmemann – Eu cheguei ao Times e nós organizamos uma força-tarefa de crise. Nós separamos as informações sobre o que estava acontecendo em Washington, o que estava acontecendo em Downtown, mas nós não podíamos fazer ligações porque as linhas haviam caído. Foi interessante porque alguns dos nossos repórteres, especialmente os mais jovens, não quiseram esperar. Simplesmente pegaram suas bicicletas e foram até o local. Quando voltavam, chegavam cobertos de cinzas. Foi uma situação muito dramática, mas, pensamento em termos jornalísticos, as pessoas fizeram um trabalho brilhante. Todo mundo estava calmo, organizado. Nós tínhamos camas caso precisássemos passar a noite na redação. Foi um dia horrível, uma tragédia, mas jornalisticamente o New York Times fez um ótimo trabalho. Todo mundo foi muito profissional durante todo o tempo de cobertura.

Terra – Você ganhou um prêmio Pullitzer escrevendo sobre a reunificação da Alemanha. Por outro lado, assinou a reportagem sobre o 11 de setembro, acontecimento do século até agora. Como foi participar da cobertura de eventos tão importantes, e ao mesmo tempo tão diferentes?
Schmemann – São dois eventos totalmente diferentes. A reunificação da Alemanha foi um processo, e não apenas um dia. Nós falamos sobre a queda do muro de Berlim, mas ela é o ponto culminante de um processo que começou com Gorbatchev e terminou anos depois. Foi um processo que exigiu muito estudo, preparação, trabalho, viagens. O 11 de setembro foi apenas um momento, um momento terrível onde tudo aconteceu sem aviso. O grande desafio foi dar alguma ordem ao caos. Jornalisticamente foi um desafio muito, muito diferente. Mais tarde, claro, a história teve continuidade, nós tivemos que seguir os acontecimentos, pensar a respeito deles, analisá-los, aprender com eles. Mas naquele dia, era difícil pensar em qualquer coisa que não fosse como organizar o que estava sendo apurado para ajudar as pessoas a entender o que estava acontecendo.

Terra – Dez anos após o 11 de setembro, você acha o que mundo é um lugar melhor para se viver?
Schmemann – Não. É o mesmo lugar. Eu penso que ele se tornou um lugar mais complicado. O 11 de setembro foi a primeira grande crise depois da Guerra Fria. Depois do final da Guerra Fria, nós pensamos que tudo ia ser simples e calmo, mas, ao invés disso, nós percebemos que há desafios diferentes. Nós ainda estamos aprendendo a viver em um mundo onde há o terrorismo. Então, eu não acho que o mundo tenha se tornado um lugar melhor, e sim mais complicado. E eu acho que o 11 de setembro foi uma confirmação de que o mundo não será um lugar simples.