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Agência nuclear da ONU aprova resolução que condena o Irã

O texto exige que Teerã "suspenda imediatamente" a construção de uma nova fábrica de enriquecimento de urânio na cidade de Qom

O Conselho de Governadores da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) aprovou–pela primeira vez desde 2006– uma resolução condenatória ao Irã por seu programa nuclear e pela falta de cooperação na investigação de suas atividades atômicas.

Ontem, o diretor-geral da agência, Mohamed ElBaradei, afirmou que a investigação sobre as atividades de Teerã teria chegado a "um beco sem saída", do qual não se sairia "se o Irã não cooperar plenamente".

O texto exige que Teerã "suspenda imediatamente" a construção de uma nova fábrica de enriquecimento de urânio na cidade de Qom, cuja existência só foi divulgada em setembro.

A resolução aprovada — que será encaminhada ao Conselho de Segurança da ONU– pede ainda que o Irã dê mais detalhes a respeito dos objetivos da instalação e expressa uma "séria preocupação" de que Teerã continue "desafiando as exigências da comunidade internacional".

O documento exige ainda a suspensão completa do enriquecimento de urânio pelo Irã.

Entre os 35 países-membros da junta, 25 votaram a favor, três contra e seis se abstiveram, enquanto o Azerbaijão deixou a sala antes da votação.

Os três países que votaram contra são Cuba, Venezuela e Malásia. A Turquia, o Paquistão, o Afeganistão, o Brasil, a África do Sul e o Egito se abstiveram.

Proposta

O texto, elaborado pela Alemanha em coordenação com as cinco potências do Conselho de Segurança –Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China– vinha sendo redigido enquanto a AIEA esperava uma resposta iraniana para sua proposta de transferir a maior parte do urânio enriquecido no Irã ao exterior.

Em 21 de outubro passado, em Viena, como parte de uma reunião entre o Irã, França, Rússia e os Estados Unidos, a AIEA apresentou um projeto de acordo que permitiria a Teerã garantir a entrega de combustível nuclear para seu reator de pesquisa.

O acordo visa definir os termos do envio de cerca de 1.200 dos 1.500 quilos de urânio enriquecido a 3,5% que o país possui à Rússia, onde deve ser enriquecido até 19,75% de pureza –o suficiente para gerar energia e incapaz de produzir armas nucleares. Para fabricar uma bomba atômica, são necessários cerca de 2.000 quilos de urânio enriquecido acima de 90%.

O urânio enriquecido seria então transferido à França, onde seria transformado em combustível nuclear e depois devolvido ao Irã para uso em um reator científico em Teerã que produz medicamento para tratamento de câncer. Esse reator funcionava até agora com combustível atômico de fabricação argentina, recebido em 1993 e que está acabando.

O texto estabelece ainda a supervisão da AIEA sobre o processo.

Urânio

Segundo a resolução aprovada nesta sexta-feira, a construção sem aviso prévio da nova fábrica na cidade de Qom, a sudoeste de Teerã, e o fato de que o Irã não informou à AIEA sobre a existência da instalação "não contribui para a criação de confiança" entre as partes.

A fábrica de Qom levanta suspeitas sobre a suposta existência de "outras instalações nucleares no Irã que não foram declaradas", adverte a resolução.

O Irã reconheceu, em setembro passado, que está construindo em Qom uma segunda planta de enriquecimento de urânio, muito menor que o centro de Natanz, o que causou inquietação na comunidade internacional.

A preocupação se deu porque muitos especialistas consideram que o tamanho da instalação – que entrará em funcionamento em 2011– não é compatível com um programa nuclear civil.

Estados Unidos e União Europeia suspeitam que o Irã esteja trabalhando em um programa nuclear militar clandestino, algo que o país nega, alegando necessidades médicas e energéticas para seu programa atômico.