Veículos de Comunicação

Oportunidade

Juro bancário segue estratégia de mercado

O movimento dos juros básicos da economia deixou de ser fator determinante para a definição das taxas cobradas pelos bancos nos empréstimos. A alta da Selic, de 7,25% ao ano em março para 9,50%, produziu reflexo em algumas linhas e bancos – mas não em todos. O aumento do risco em algumas modalidades apertou a concorrência nas mais rentáveis e, com isso, a definição dos juros passou a seguir muito mais a estratégia dos bancos do que a Selic.

Levantamento dos juros cobrados em três linhas para pessoas físicas e três para empresas nos cinco maiores bancos, realizado com base nas taxas publicadas pelo Banco Central (BC) em seu site, mostra 15 altas e 14 quedas nos últimos 12 meses.

"Muitas vezes, um banco decide baratear uma linha para aumentar sua participação no mercado, e acaba aumentando a taxa em modalidades que considera menos estratégicas, para compensar", diz uma fonte que pediu para não se identificar.

Este é exatamente o caso do crédito imobiliário: "Independentemente do custo de captação, esse crédito é muito importante porque conquista um cliente por 20, 30 anos – o que permite ganhar com a venda cruzada de produtos e serviços", diz Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating.
 
"Se um banco se sente confortável para continuar crescendo em um segmento, ainda que outros não, este tende a cobrar menos para manter a carteira".

Dos bancos pesquisados, o Banco do Brasil (BB) aumentou os juros em quatro das seis linhas – mas ainda assim continua com as taxas mais baixas do que a dos bancos privados (o BB agora perde para a Caixa em quatro modalidades). O maior aumento promovido pelo BB foi de 6,3 pontos percentuais nos juros para empréstimos de capital de giro de longo prazo para empresas.

Em antecipação de recebíveis de cartões, Santander e Bradesco reduziram as taxas, enquanto BB e Itaú promoveram uma forte alta. No caso do Santander, a redução segue uma estratégia já anunciada, de crescer no segmento de pequenas e médias empresas, e aumentar a fatia de mercado da GetNet, empresa dona das "maquininhas" que captura operações com cartões principalmente em pequenos e médios estabelecimentos. O Santander foi o banco que promoveu mais reduções nas linhas analisadas: quatro em seis.

Procurados, os bancos preferiram não comentar o assunto, em função da proximidade da divulgação dos balanços relativos ao terceiro trimestre, que começam na segunda-feira pelo Bradesco.

O BB apenas confirmou que mantém o spread geral de sua carteira de crédito, mas o repasse da Selic não é automático em todas as linhas de crédito.

"O modelo de crédito também leva em consideração o fator risco. Algumas taxas podem ter sido impactadas pelo aumento do risco", disse uma fonte do banco, que preferiu não se identificar.

O Itaú observou, por meio da sua assessoria de imprensa, que como as taxas do BC são as efetivamente cobradas, essa variação pode ser decorrente também de condições dos financiamentos e score de crédito dos clientes, que pode acabar influenciando também.

A política de direcionar a carteira por meio da fixação de taxas de juros maiores ou menores vem dando resultados.
 
Levantamento da Anefac com base em dados do BC, até agosto mostra que a carteira de crédito imobiliário estava em R$ 314,896 bilhões, com alta de 23,3% no ano e de 35,1% em 12 meses. A inadimplência no segmento, em torno de 2%, é uma das mais baixas – por isso o interesse dos bancos em reduzir as taxas para crescer no segmento.

No consignado, outra modalidade onde pelo menos dois bancos reduziram os juros, a carteira estava em R$ 214,728 bilhões – uma alta de 13,7% no ano e de 17,3% em 12 meses, com calotes equivalentes a 2,7% (queda de 0,1 pp ao ano e de 0,1 pp em 12 meses).