Culturas geneticamente modificadas podem ajudar a proteger o meio ambiente e as pessoas de uma superexposição a pesticidas, aponta relatório elaborado por um comitê do Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos. O conselho integra as academias nacionais de ciências, que aconselham o governo americano.
A melhora da qualidade da água pode vir a ser o maior benefício dos transgênicos, de acordo com o documento. O uso de inseticidas tem declinado desde que organismos geneticamente modificados (OGMs) foram introduzidos, e os agricultores que cultivam transgênicos usam menos inseticidas e herbicidas que se mantém por longo tempo no solo e nos cursos dágua.
Fazendeiros e seus empregados não apenas enfrentam uma exposição reduzida aos produtos químicos nocivos presentes em alguns herbicidas e inseticidas que eram usados antes da introdução das lavouras geneticamente modificadas, como passam menos tempo nos campos aplicando pesticidas, diz o texto.
O comitê não avaliou questões de saúde ou segurança, que foram cobertas em relatórios anteriores. Tentamos navegar pelo meio. Não quisemos ser pró ou contra, disse David Ervin, da Universidade Estadual do Oregon em Portland, que presidiu o comitê.
Porém, o documento alerta para o risco de que as pragas estejam desenvolvendo resistência ao Roundup, o herbicida usado para tratar campos cultivados com um certo tipo de planta transgênica.
Estamos vendo evidências sólidas de que a resistência das pragas ao glifosfato está aumentando. Isso requer atenção séria, disse Ervin. Glifosfato é o principal ingrediente do herbicida Roundup, fabricando pela Monsanto. A empresa de biotecnologia criou várias culturas geneticamente modificadas para resistir ao efeito do produto que, segundo Ervin, substituiu agrotóxicos mais perigosos para a saúde humana.
Nove pragas nos EUA desenvolveram resistência ao glifosato em áreas onde culturas transgênicas são plantadas, em comparação com sete em áreas onde a modificação genética não é usada. O uso de culturas geneticamente modificadas para resistir a pesticidas também permite que os agricultores dependam menos de práticas que empobrecem o solo e causam erosão, afirma o relatório.
Brasil. No País, o plantio e a comercialização de variedades transgênicas dependem da aprovação de órgãos do governo federal – a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e o Conselho Nacional de Biossegurança. Os plantios começaram em 2004, com a soja.
O uso desse tipo de planta é criticado por ambientalistas, que temem o impacto ecológico das variedades modificadas e alertam para as incertezas sobre a influência das plantas transgênicas na saúde humana.
Regras frouxas. Segundo o professor da USP Paulo Kageyama, que representa o Ministério do Meio Ambiente na CTNBio, não se pode assumir o documento americano como verdade para o Brasil. Os EUA têm regras muito frouxas no caso dos transgênicos. Eles sempre foram liberais, são pela tecnologia e fim de papo.
Para ele, os efeitos dos OGMs precisam ser estudados no longo prazo. Hoje, a tecnologia é criada e aprovada muito rapidamente. Mas os problemas aparecem quando há grande escala.
Kageyama afirma ainda que, no País, os transgênicos acabam atrapalhando os pequenos produtores e produtores de orgânicos, que têm suas plantações contaminadas pelos OGMs.
No Brasil, produtos que contêm uma proporção de transgênicos superior a 1% devem apresentar um selo especial, para informação do consumidor.
Na avaliação de Alda Lerayer, diretora do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), entidade que reúne pesquisadores e empresas do setor de biotecnologia, no Brasil as culturas transgênicas de soja e milho já apresentam benefícios ao ambiente, como a redução da necessidade de pulverizar pesticidas nas lavouras, que além de poluir, também consomem água em grandes volumes.
Cada pulverização de inseticida consome no mínimo 700 litros de água por hectare. Com transgênicos, esse gasto cai a menos da metade.
PARA ENTENDER
Tecnologia é cercada de polêmica
Os transgênicos ou organismos geneticamente modificados (OGM) são produzidos em laboratório por meio da introdução de genes de outras espécies, com o objetivo de atribuir a eles novas características – no caso dos grãos, resistência a pragas e a condições climáticas adversas, como secas prolongadas.
No Brasil, o plantio de transgênicos ocorre desde 2004 e está sujeito à aprovação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CNTBio), que assessora o governo federal nas questões de biotecnologia.
Mas a tecnologia é cercada de polêmicas. Entre os argumentos contrários ao uso dos transgênicos estão o risco de contaminação de lavouras convencionais pelos genes modificados e a falta de estudos que comprovem que o consumo desses alimentos não traz riscos à saúde humana e ao meio ambiente.