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Agosto Lilás reforça a importância de denunciar e enfrentar todas as formas de violência contra a mulher

Campanha Agosto Lilás busca conscientizar a população sobre a violência contra a mulher e incentivar denúncias

Professora da UFMS ressalta que, embora o tema deva ser debatido todos os dias, este período é estratégico para dar mais visibilidade ao problema - Foto: Reprodução TVC
Professora da UFMS ressalta que, embora o tema deva ser debatido todos os dias, este período é estratégico para dar mais visibilidade ao problema - Foto: Reprodução TVC

O mês de agosto é marcado pela campanha Agosto Lilás, voltada à prevenção e ao enfrentamento da violência contra a mulher. A professora e pesquisadora Patrícia Helena Milani, especialista em Geografia Urbana e Questões de Gênero da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), ressalta que, embora o tema deva ser debatido todos os dias, este período é estratégico para dar mais visibilidade ao problema e estimular denúncias.

Segundo ela, a Delegacia da Mulher, o Centro de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM) e os serviços de assistência social registram aumento nos atendimentos em março, por conta do Dia Internacional da Mulher, e em agosto, devido à mobilização do Agosto Lilás. Para a pesquisadora, isso demonstra como campanhas e ações públicas incentivam a quebra do silêncio.

Patrícia lembra que o Brasil ainda tem uma trajetória recente na criação de leis específicas para proteger as mulheres. A Lei Maria da Penha, por exemplo, completa 19 anos em 2025. Já a legislação que tipifica o feminicídio tem apenas 10 anos e a que criminaliza a importunação sexual foi sancionada há seis anos. Ela destaca que, até pouco tempo, não havia qualquer instrumento jurídico que garantisse proteção efetiva para mulheres vítimas de agressões físicas ou assassinadas por seus companheiros.

A pesquisadora reforça que a violência de gênero não se limita a agressões físicas. Há também microviolências cotidianas, como humilhações, ameaças e controle emocional, que são igualmente nocivas. Em suas pesquisas, ela analisa casos de mulheres que, mesmo sem apresentarem marcas visíveis, enfrentam sofrimentos profundos e de difícil comprovação.

Outro aspecto abordado é a dependência econômica e emocional que muitas vítimas têm em relação ao agressor. Patrícia explica que, em alguns casos, a dependência afetiva é ainda mais forte do que a financeira, mantendo as mulheres presas a relações abusivas. Ela relata que entrevistou vítimas que hoje são profissionais bem-sucedidas, mas que, no passado, não conseguiam romper o ciclo da violência por acreditarem que não conseguiriam viver sem um homem.

Para romper essa realidade, a professora ressalta a importância das redes de apoio, tanto no âmbito familiar quanto institucional. Essas redes oferecem segurança, acolhimento e alternativas para que a mulher possa recomeçar a vida.

Patrícia defende que o debate sobre gênero, violência e direitos precisa estar presente dentro das universidades. No curso de Geografia, por exemplo, as pesquisas integram questões de classe, raça, gênero e sexualidade, para que futuros profissionais compreendam a diversidade da população e atuem de forma mais sensível e eficaz.

Ela lembra que o racismo e o machismo são problemas estruturais e que não podem ser tratados apenas como questões morais ou religiosas. Por isso, acredita que a educação e a conscientização são ferramentas fundamentais para combater as desigualdades e garantir que as mulheres possam viver com liberdade e segurança.