Custo, este é o principal fator que leva consumidores a procurarem por óculos de grau nas barracas dos camelôs em Três Lagoas. A busca por um recurso rápido e barato para os problemas de visão pode parecer solução a curto prazo, mas essa medida pode significar a prorrogação ou até mesmo a piora do quadro ocular.
A compra de maneira indiscriminada reflete o problema em uma vida de mão dupla. Se por um lado, há quem compre o produto, do outro há o comércio ilegal, que irresponsavelmente oferece os óculos – mesmo com todas as consequências que sabem que podem resultar (tanto para quem compra, quanto para quem vende).
Quem procura por eles no camelô não tem dificuldades em encontrar.Em qualquer barraca é possível obter a informação. A equipe do Jornal do Povo esteve no local para verificar se a venda realmente acontecia. Antes da identificação como imprensa, o ambulante afirmou que fazia as vendas e até recebia encomendas, no entanto, depois da identificação o vendedor desconversou. “Eu não vendo mais. Trouxe poucos, sei que a venda é ilegal, é como vender cigarros e remédios”.
Em conversa informal ele enfatizou que a procura é alta. “A maioria diz que os óculos são bons e muitos até fazem encomenda. Ninguém reclama, a maioria procura para leitura, para enxergar de perto”.
Os valores variam de acordo com a armação dos óculos, mas em média custam R$ 10, R$ 15 (grau não varia o preço).
Para saber qual se adapta melhor, os consumidores escolhem na hora da compra. A dona de casa, Maria Rita Pereira, disse que comprou os óculos após sentir dores de cabeça e ficar com a visão embaçada. “Fui ao camelô e provei alguns graus. Fiquei com o de um e meio [grau], pois achei que melhorou bastante. Não tive nenhum problema com a compra e não gastei dinheiro nem com o oftalmologista”.
Da mesma opinião partilha o autônomo Márcio Santana, ele já usa óculos há três anos e disse que só trocou a armação. “Meus óculos quebraram e como sei exatamente o que uso comprei esses no camelô”.
Embora muitos ainda possam contar histórias semelhantes, o médico especialista Gilberto dos Santos Marcos, oftalmologista, revela que a busca por óculos clandestinos é reflexo da falta de consciência dos perigos que podem ser causados. “O problema vai além da visão. O uso indiscriminado de qualquer grau pode comprometer a saúde e a visão”.
Além das doenças ocasionadas pela baixa visão, como o glaucoma, diabetes, hipertensão, cataratas, o oftalmologista salienta que muitas vezes quando um paciente procura o médico apenas buscando a receita de óculos, pelos exames é possível detectar outros problemas de saúde. “A pessoa não sabe o que está comprando. Não sabe da qualidade e da procedência, além do que o camelô não vende lentes multifocais. Ao invés de corrigirem elas acabam piorando a visão”.
Marcos pontua ainda que o uso de óculos errado traz resultados positivos na correção da visão e no desconforto. “A pessoa não vai enxergar direito e continuará sentindo dor de cabeça”. Ele recomenda a consulta ao especialista para receitar os óculos. “É preciso procurar uma ótica, e ainda retornar ao médico para a conferência de que as lentes estão de acordo com a receita”.
CONTRABANDO
Dados do ano passado revelam que de R$ 1 bilhão apreendidos em mercadorias irregulares pela Receita Federal, R$ 73 milhões eram equipamentos ópticos. Só neste ano, 4,4 milhões de unidades foram apreendidas em todo o país.
O contrabando perde apenas para CDs e DVDs, é fácil perceber que é um negocio intenso, já que figura em terceiro lugar na lista dos produtos mais contrabandeados.
O comércio de óculos com lentes corretivas é regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). É obrigatório a apresentação de uma receita médica de oftalmologista para que os óculos ou lentes de contato sejam fabricados e só então vendidos.
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