O setor florestal de Mato Grosso do Sul vive um momento de forte expansão, impulsionado pelas fábricas de celulose e papel instaladas no Estado. Mas, junto com o crescimento acelerado, surge também um desafio que preocupa empresas e entidades, a falta de trabalhadores qualificados para atender à demanda.
Nos últimos anos, Mato Grosso do Sul se consolidou como o principal polo de celulose do país, com destaque para as indústrias em operação em Três Lagoas e Ribas do Rio Pardo. Uma nova fábrica está em construção em Inocência e outras estão em estudo, ampliando a necessidade de áreas de plantio, transporte e logística. Esse avanço, no entanto, também trouxe uma preocupação imediata para o setor.
A dificuldade em encontrar profissionais capacitados para ocupar as vagas, que surgem em ritmo acelerado, é apontada como um dos principais gargalos. Para o diretor florestal da Eldorado Brasil, Germano Vieira, a carência vai além do treinamento oferecido pelas empresas. Ele destaca que os municípios que recebem os empreendimentos ainda não possuem estrutura urbana suficiente para absorver a nova população atraída pelas oportunidades.
Segundo Germano, a carência de escolas, hospitais e moradias limita a instalação de trabalhadores e famílias. “Mesmo que as empresas tenham capacidade de treinar toda a mão de obra, ainda existe o desafio do suporte social. Só a população local não consegue atender a demanda dos grandes empreendimentos”, afirma.
A disputa por profissionais qualificados também atinge companhias já consolidadas. A Eldorado Brasil, que opera desde 2012 em Três Lagoas, enfrenta as mesmas dificuldades. A maior carência, segundo Vieira, está na área florestal, que demanda trabalhadores de diferentes níveis de escolaridade. Mesmo com avanços na mecanização e na “cabinização” — sistema que garante melhores condições de trabalho em máquinas climatizadas — ainda faltam operadores capacitados.
No município de Inocência, onde a Arauco constrói sua fábrica de celulose, a situação não é diferente. O diretor Teófilo Militão ressalta que o Estado vive um cenário de pleno emprego, mas com baixa disponibilidade de profissionais qualificados. Para ele, a mecanização florestal é parte da solução, mas ainda insuficiente diante da velocidade da expansão.
A avaliação é compartilhada pelo diretor executivo da Reflore- MS, Dito Mário. Ele reforça que a escassez de trabalhadores é um dos pontos críticos para a continuidade da expansão do setor florestal. “O desafio não é apenas formar mão de obra para a indústria, mas para toda a cadeia que compõe esse grande segmento”, observa.
Além da falta de mão de obra, a logística e a infraestrutura também preocupam as lideranças. A ausência de rodovias duplicadas, a necessidade de mais estradas pavimentadas e a reativação da ferrovia, atualmente desativada, são apontadas como medidas urgentes. O transporte ferroviário, por exemplo, reduziria custos e aumentaria a competitividade das exportações de celulose.
Com a chegada de novas fábricas e a perspectiva de outros investimentos, a preocupação é de que o Estado consiga acompanhar esse crescimento. Para as lideranças do setor, o avanço só será sustentável com investimentos contínuos em capacitação profissional e em infraestrutura urbana, garantindo melhores condições de vida para trabalhadores e famílias que chegam atraídos pelo chamado Vale da Celulose Sul-mato-grossense.