“Mais uma, mais uma, mais uma” — o refrão entoado pelo público ao final da apresentação do Bando do Velho Jack em Paranaíba sintetiza a qualidade do show na noite de sexta-feira (16). “ Uma noite intensa vibe lá em cima e muito rock’n’roll. Mais uma parceria de respeito, som de qualidade e energia de sobra para celebrar o que a gente ama: música, estrada e irmandade”, descreveram eles, após o show, nas redes sociais.
A banda mais longeva do rock de Mato Grosso do Sul, com 30 anos de formação, apresentou-se pela segunda vez na cidade. “A primeira vez faz tanto tempo, foi no início da banda”, lembra Rodrigo Tozzette, vocalista e líder do grupo.
Ele concedeu entrevista exclusiva ao grupo RCN, antes do show, e abriu o coração ao contar um pouco da trajetória de três décadas, que torna o Bando do Velho Jack referência no rock sul-mato-grossense, influenciando novas bandas e brigando por espaços de reconhecimento. “São 30 anos de dedicação ao rock’n roll”, garante.
Para Rodrigo Tozzette, não é exagero dizer que a música sul-mato-grossense é uma joia da cultura nacional. O vocalista enxerga na musicalidade local — marcada por nomes como Almir Sater, Paulo Simões, Geraldo Roca e a família Espíndola — uma riqueza única, que deveria ser mais reconhecida e valorizada.
“Se você pegar pela personalidade de cada região, para nós, a música sul-mato-grossense é a mais linda do Brasil. Ela tem alma, tem raiz, tem identidade.”
O vocalista revela como é o relacionamento com os outros integrantes da banda e conta um pouco de sua história de superação, após cinco anos da realização de uma tireoidectomia. Tozzette atendeu ao pedido do público e encerrou a noite com Esse Tal de Roque Enrow, da musa Rita Lee.
“O Bando do Velho Jack” apresentou se no parque de exposições Daniel Martins Ferreira com a formação completa: Rodrigo Tozzette (vocalista e guitarra base; Marcos Yallouz (baixista); Fábio Terra (cantor e violão), Alex Cavalheri (tecladista) e Alex Kundera (baterista).
Como é completar 30 anos na estrada do rock?
“Olha, são 30 anos de muita fidelidade ao rock’n roll. A gente não arredou o pé em 30 anos. A gente teve, assim, até oportunidades, convites para talvez desvirtuar um pouco o caminho do rock’n roll, do timbre, das influências, mas a gente manteve nossa fidelidade ao estilo. Em 30 anos, muita coisa aconteceu — coisas que até é difícil lembrar. Já viemos aqui em Paranaíba, mas faz muito tempo, lá no começo da banda. É difícil lembrar, mas, ao mesmo tempo, parece que tudo começou ontem. A gente vive isso, é uma coisa nova a cada dia. E espero que tenha, pelo menos, mais 30 anos pela frente.”
Você tem ideia da influência que exerce sobre a juventude que toca música em MS?
“A gente ouve muito da garotada de outras bandas que vêm, que falam, que tocam nossas músicas e tudo mais. Para nós, a coisa vai acontecendo tão naturalmente… Todas as bandas que estão aí no circuito, que estão dando a cara a tapa no Estado, nos palcos, para manter o rock vivo, são todos nossos irmãos. Sentimos que todos são nossos irmãos de farda. Se a gente está influenciando as bandas mais novas, o pessoal que está começando, a gente fica feliz demais. É sinal de que está rolando, de que está se perpetuando. Espero também que essas bandas cheguem aos 30 anos — e mais — e influenciem outras garotadas que vêm aí pela frente.”
Junto com outros nomes, vocês fizeram e fazem a história do rock em Mato Grosso do Sul?
“Essa questão de sermos uma banda de rock de Mato Grosso do Sul é uma bandeira que a gente empunha mesmo. Temos um apreço, um sentimento pela música sul-mato-grossense — que é a música do Paulo Simões, do Geraldo Roca, do Almir Sater, da família Espíndola, do Guilherme Rondon, do Carlos Colman. A gente tem um amor por essa música. Consideramos essa música uma das mais bonitas do Brasil. Pela personalidade de cada região, para nós, a música sul-mato-grossense é a mais linda.
A gente uniu isso, trouxe as músicas do Simões, do Roca, do Almir para o nosso repertório e fizemos versões em rock, como Trem do Pantanal, Cavaleiro da Lua. Estamos agora com uma versão nova de Comitiva Esperança, do Almir e do Paulinho, que a gente curte demais tocar. Essa música de MS tem que ser reverenciada, tem que ser apreciada. Temos que fazer com que o público do rock, que não buscou essa música regional ainda, tenha acesso. Talvez, através das nossas versões, vá buscar a raiz da música e conhecer.
Precisamos que a música sul-mato-grossense, de forma geral, seja exportada, que vá para fora do Estado — não só o sertanejo, que é muito forte —, mas o regional, a nossa MPB, o nosso rock. Eles têm que expandir. Tentamos despertar nas pessoas um bairrismo bom. Como tem no Rio Grande do Sul: você chega lá e pergunta quais as melhores bandas do Brasil, e eles vão dizer que são os Engenheiros do Hawaii, que são de lá. Uma de nossas batalhas é essa: fazer com que o rock sul-mato-grossense seja observado como um rock de personalidade, assim como a música regional tem. E que tenha mais consumo e apreço dentro do nosso Estado, para poder expandir.”
Esse bairrismo bom só se faz com bons companheiros. Como é conviver com a galera do Bando?
“São trinta anos de relacionamento. A gente já passou por tudo. A gente vai ficando mais tranquilo, mais tolerante. Só temos a agradecer por a banda estar funcionando até hoje. A gente tem que se suportar em muitas coisas, mas, ao mesmo tempo, tem muita coisa que a gente admira uns nos outros. Com o tempo, a gente vai amadurecendo, olhando mais para esse lado, para o lado bom de cada um. Assim, seguimos em frente.”
Da formação inicial da banda, em 1995, hoje o “Bando” tem novos integrantes?
“De 1995, o único que ainda está junto é o Marquinhos, baixista. Em 1996, com um ano de existência, entrou o Fábio Corvo, que está até hoje. Com um ano e meio, entrei eu, em meados de 97. Em seguida entrou o Alex Batata, tecladista. De lá para cá, mudamos a bateria algumas vezes. O Bosco, um dos fundadores da banda, é nosso eterno baterista — não está mais com a banda. Então, estamos sempre com bateristas convidados, músicos contratados que são caras espetaculares também. Nós quatro, que somos da formação do começo, estamos há muito tempo juntos.”
Como foi superar a questão de saúde que afetou suas cordas vocais?
“Tive câncer na tireoide, tive que fazer tireoidectomia, que é a retirada da tireoide. Na cirurgia, tive alguns traumas nos nervos que irradiam para a face e a laringe. Fiquei com um lado das cordas vocais paralisado. O câncer me assustou um pouco, mas, pelo grau de risco, não me causou tantos problemas. A cirurgia foi muito bem-sucedida, mas é suscetível a traumas nos nervos — isso pode acontecer.
Fiquei um ano com as cordas vocais paralisadas. Tive que fazer muita fisioterapia, muita fono. Durante meses, não sabia se voltaria a cantar ou não. Eu teimei bastante, fui para cima, falei: ‘vou ter que consertar’ — e fiz o que precisava ser feito. Sempre tranquilo, porque, quando isso aconteceu, eu já tinha 25 anos de banda e 30 de música. Este mês faz cinco anos da cirurgia. Pensava assim: ‘se não resolver, tudo bem. Vou achar outra coisa. Vou ser grato pelo que fiz até aqui. Daqui para frente, o que vier é lucro’. E rolou! Estamos aí, firmes, voltamos com força!”