Nada de correria, brinquedos espalhados pelo chão ou coleção de bonecas. Meninas de 11, 12 anos não se consideram mais crianças, se dizem adolescentes e enfatizam que a fase de brincar é coisa para garotas mais novas, de oito, nove anos no máximo.
A geração que cresce cada vez mais cedo marca presença em lugares antes considerados apenas para mulheres – salões de beleza, depilação, centros de estética e lojas segmentadas – estão cada vez mais repletas com a presença do público infantil.
As meninas não querem mais saber de roupas coloridas, com temas infantis. Elas agora prezam pela beleza, saltos altos – cores agora vão desde a maquilagem, passam pelas tinturas de cabelos e chegam à tendência de nuances fortes nas unhas.
É uma situação que não se reflete apenas em grandes centros, as mudanças de comportamento já podem ser vistas em cidades pequenas. Agora as crianças participam avidamente do mundo dos adultos e se transformam nos novos convidados a realidade apresentada pela mídia, como o mundo do consumo e dos prazeres.
A professora de Sociologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Ana Lúcia Espíndola, diz que até o século XVII não existia um sentimento de infância. O papel da criança não era apenas brincar e curtir uma fase da vida. “As crianças eram pintadas como adultos em miniatura. Até as obras de arte mostram desta maneira. Só depois do século XVII é que essa imagem foi mudando. O que vemos hoje é um encurtamento da infância. Cada vez mais crianças se dão ao direito de se tornarem adolescentes”, explica.
Segundo Ana Lúcia, o estímulo ao consumo é constante, geralmente é a mãe quem incentiva o comportamento do filho. “Hoje a tevê atua como fator fundamental nesta questão. As modelos são referências de beleza, e o consumo é cada vez mais estimulado. É como se ter, significasse felicidade e poder. Vivemos num espaço onde as aparências dizem muito”, complementa.
A lista de problemas com o crescimento precoce pode esbarrar em casos de anorexia, bulimia, depressão, entre outras. “Como as crianças crescem vendo ‘padrões’ elas aliam isso a uma realidade. Estar ligado a um grupo e pertencer a ele implica em questões como estas. Hoje há uma erotização, o que também influência cada vez mais no inicio das atividades sexuais mais cedo”.
A professora explica ainda que esse é um reflexo que se estende há séculos. “Na infância esse indicativos já começam a aparecer. A barbie, por exemplo, não é apenas uma boneca. Ela é uma mulher. Tem cintura, cabelos longos, marido, casa, filhos, ou seja, é projetada para ter uma família e segue um padrão de beleza”, expõe.
Hoje as crianças já se diferenciam por meio das roupas, elas têm uma necessidade de pertencer a um grupo. “As crianças têm pulado fases importantes, elas tentam se adequar ao que a mídia impõe”.
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